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CURSO-O MARAVILHOSO EO SOBRENATURAL
O Maravilhoso e o Sobrenatural II–Cap. II– Livro dos Médiuns– (questões 12 a 15)
12) Na lógica mais elementar, para discutir uma coisa é necessário conhecê-la porque a opinião de um crítico só tem valor quando ele fala com conhecimento de causa. Somente assim, a sua opinião, embora errônea pode ser levada em consideração. Mas a que peso ela pode ter, quando emitida sobre a matéria que ele desconhece? A verdadeira crítica deve dar provas, não somente de erudição, mas de conhecimento profundo do objeto tratado, de isenção no julgamento e de absoluta imparcialidade. A não ser assim, qualquer violeiro poderia se arrogar o direito de julgar Rossini e qualquer pintor de paredes de censurar Rafael.
13) O Espiritismo não aceita todos os fatos considerados maravilhosos. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de algumas crenças que constituem, propriamente falando, a superstição. É verdade que entre os fatos por ele admitidos há coisas que, para os incrédulos, são inegavelmente do maravilhoso, o que vale dizer da superstição. Que seja. Mas, pelo menos, que limitem a eles a discussão, pois em relação aos outros nada têm que dizer e pregarão no deserto. Criticando o que o próprio Espiritismo refuta, demonstram ignorar o assunto e argumentam em vão. Mas até onde vai a crença do Espiritismo, perguntarão. Lede e observai, que o sabereis.
A aquisição de qualquer ciência exige tempo e estudo. Ora, o Espiritismo, que toca nas mais graves questões da Filosofia, em todos os setores da ordem social, que abrange ao mesmo tempo o homem físico e o homem moral, é em si mesmo toda uma Ciência, toda uma Filosofia, que não podem ser adquiridas em apenas algumas horas. Há tanta puerilidade em ver todo o Espiritismo n uma mesa girante, como em ver toda a Física em algumas experiências infantis. Para quem não quiser ficar na superfície, não são horas, mas meses e anos que terá de gastar para sondar todos os seus arcanos. Que se julgue, diante disso, o grau de conhecimento e o valor da opinião dos que se arrogam o direito de julgar porque viram uma ou dias experiências, quase sempre realizadas como distração ou passatempo. Eles dirão, sem dúvida que não dispõem do tempo necessário para esse estudo. Que seja, mas nada os obriga a isso. E quando não se tem tempo para aprender uma coisa, não se pode falar dela, e menos ainda julgá-la, se não se quiser ser acusado de leviandade. Ora, quanto mais elevada é a posição que se ocupe na Ciência, menos desculpável será tratar-se levianamente um assunto que não se conhece.
14) Resumimos nossa opinião nas proposições seguintes:
1º) Todos os fenômenos espíritas têm como princípio a existência da alma, sua sobrevivência à morte do corpo e suas manifestações;
2º) Decorrendo de uma lei da Natureza, esses fenômenos nada têm de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar dessas palavras;
3º) Muitos fatos são considerados sobrenaturais porque a sua causa não é conhecida; ao lhes determinar a causa, o Espiritismo os devolve ao domínio dos fenômenos naturais;
4º) Entre os fatos qualificados de sobrenaturais, o Espiritismo demonstra a impossibilidade de muitos e os coloca entre as crenças supersticiosas;
5º) Embora o Espiritismo reconheça um fundo de verdade em muitas crenças populares, ele não aceita absolutamente que todas as estórias fantásticas criadas pela imaginação sejam da mesma natureza;
6º) Julgar o Espiritismo pelos fatos que ele não admite é dar prova de ignorância e desvalorizar por completo a própria opinião;
7º) A explicação dos fatos admitidos pelo Espiritismo, de suas causas e suas consequências morais, constituem toda uma Ciência e toda uma Filosofia que exigem estudo sério, perseverante e aprofundado;
8º) O Espiritismo só pode considerar como crítico sério aquele que tudo viu e estudou, em tudo se aprofundando com paciência e a perseverança de um observador consciencioso; que tenha tanto conhecimento do assunto como adepto mais esclarecido; que haja, portanto, adquirido seus conhecimentos nas ficções literárias da ciência; ao qual não se possa opor nenhum fato por ele desconhecido, nenhum argumento que ele não tenha meditado e que não tenha refutado apenas por meio da negação, mas por outros argumentos mais decisivos; aquele enfim, que pudesse apontar uma causa mais lógica para os fatos averiguados. Esse crítico ainda está para aparecer. (1)
(1) Realmente, esse crítico, ainda em nossos dias, está por aparecer. Basta uma rápida leitura dos livros e artigos publicados hoje contra o Espiritismo, para nos mostrar que a situação não mudou. Cientistas, filósofos, teólogos, sacerdotes, pastores e intelectuais, inclusive adeptos de instituições espiritualistas procedentes do antigo Ocultismo, continuam a criticar levianamente o Espiritismo, sem se darem ao trabalho preliminar de estudá-lo, a não ser ligeiramente e com segundas intenções. (N. do T.)
15) Referimo-nos há pouco à palavra milagre; uma breve observação sobre o assunto não estará deslocada num capítulo sobre o maravilhoso. Na sua acepção primitiva e por sua etimologia a palavra milagre significa coisa extraordinária, coisa admirável de ver. Mas essa palavra, como tantas outras, desviou-se do sentido original e hoje se diz (segundo a Academia): de um ato de potência divina contrário ás leis comuns da Natureza. Essa é, com efeito, a sua acepção usual, e só por comparação ou metáfora se aplica às coisas vulgares que nos surpreendem e cuja causa desconhecemos.
Não temos absolutamente a intenção de examinar se Deus poderia julgar útil, em certas circunstâncias, derrogar as leis por ele mesmo estabelecidas. Nosso objetivo é somente o de demonstrar que os fenômenos espíritas, por mais extraordinários que sejam, não derrogam de maneira alguma essas leis e não têm nenhum caráter miraculoso, tanto mais que não são maravilhosos ou sobrenaturais. O milagre não tem explicação; os fenômenos espíritas, pelo contrário, são explicados da maneira mais racional. Não são, portanto, milagres, mas, simples efeitos que têm sua razão de ser nas leis gerais. O milagre tem ainda outro caráter: o de ser insólito e isolado. Ora, desde que um fato se reproduz, por assim dizer, à vontade, e por meio de pessoas diversas, não pode ser um milagre.
A Ciência faz milagres todos os dias aos olhos dos ignorantes: eis porque antigamente os que sabiam mais do que o vulgo passavam por feiticeiros, e como se acreditava que toda ciência sobre-humana era diabólica, eles eram queimados. Hoje, que estamos muito mais civilizados, basta enviá-los para os hospícios.
Que um homem realmente morto, como dissemos no início, seja ressuscitado por uma intervenção divina e teremos um verdadeiro milagre, porque isso é contrário às leis da Natureza. Mas se esse homem tem apenas a aparência da morte, conservando ainda um resto de vitalidade latente, e a Ciência ou uma ação magnética consegue reanimá-lo para as pessoas esclarecidas isso é um fenômeno natural. Entretanto, aos olhos do vulgo ignorante o fato passará por milagroso e o seu autor será rechaçado a pedradas ou será venerado, segundo o caráter dos circunstantes. Que um físico solte um papagaio elétrico num meio rural, fazendo cair um raio sobre uma árvore, e esse novo Prometeu será certamente encarado como detentor de um poder diabólico. Aliás, diga-se de passagem, Prometeu nos parece sobretudo um antecessor de Franklin; mas Josué, fazendo parar o Sol, ou antes a Terra, nos daria o verdadeiro milagre, pois não conhecemos nenhum magnetizador dotado de tanto poder para operar esse prodígio.
De todos os fenômenos espíritas, um dos mais extraordinários é indiscutivelmente o da escrita direta, um dos que demonstram da maneira mais evidente a ação das inteligências ocultas. Mas por ser produzido pelos seres ocultos, esse fenômeno não é mais miraculoso do que todos os demais, também devidos a agentes invisíveis. Porque esses seres invisíveis, que povoam os espaços, são uma das potências da Natureza, potência que age incessantemente sobre o mundo material, tão bem como sobre o mundo moral.
O Espiritismo, esclarecendo-nos a respeito dessa potência, dá-nos a chave de uma infinidade de coisas inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio, e que em tempos distantes puderam passar como prodígios. Ele revela, como aconteceu com o magnetismo, uma lei desconhecida ou pelo menos mal compreendida; ou, dizendo melhor, uma lei cujos efeitos eram conhecidos, porque produzidos em todos os tempos, mas ela mesma sendo ignorada, isso deu origem à superstição. Conhecida essa lei, o maravilhoso desaparece e os fenômenos se reintegram na ordem das coisas naturais. Eis porque os espíritas, fazendo mover uma mesa ou com que os mortos escrevam, não fazem mais milagres do que o médico ao reviver um moribundo ou o físico ao provocar um raio. Aquele que pretendesse, com a ajuda desta Ciência, fazer milagres, seria um ignorante da doutrina ou um trapaceiro.
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