O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. V - Bem-Aventurados os aflitos.
Justiça das aflições - Causas atuais das aflições - Causas anteriores das aflições - Esquecimento do passado - Motivos de resignação - O suicídio e a loucura - Instruções dos Espíritos: Bem e mal sofrer - O mal e o remédio - A felicidade não é deste mundo - Perda de entes queridos. Mortes prematuras - Se fosse um homem de bem teria morrido - Os tormentos voluntários - A verdadeira desgraça - A melancolia - Provas voluntárias. O verdadeiro cilício - Deve-se pôr fim às provas do próximo? - É permitido abreviar a vida de um doente que sofre sem esperança de recuperação? - Sacrifício da própria vida - Proveito dos sofrimentos em função dos outros.
1. Bem-aventurados os que choram, pois eles serão consolados. Bem-aventurados os famintos e sedentos pela justiça, pois serão saciados - Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. (Mateus, V:5,6,10)
2. Bem-aventurados vós, os pobres, pois o Reino dos Céus vos pertence - Bem-aventurados vós, que tendes fome, pois sereis fartos - Bem-aventurados vós, que chorais agora, pois rireis (Lucas, VI:20-21).
Mas ai de vós, ricos! Pois que vós tendes a vossa consolação no mundo. Ai de vós, que estais saciados, pois tereis fome; ai de vós que agora rides, pois que gemereis e chorareis (Lucas, VI:24-25).
Justiça das aflições
3. As compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra somente poderão realizar-se na vida futura. Sem a certeza do porvir, essas máximas não teriam sentido, ou mais do que isto, seria um artifício. Até mesmo com essa certeza, compreende-se dificilmente a utilidade de sofrer para ser feliz. Diz-se que é para haver mais mérito. Mas, então, se pergunta: por que uns sofrem mais do que outros; por que uns nascem na miséria e outros na opulência, sem nada terem feito para justificar essa posição; por que para uns nada dá certo, enquanto para outros tudo parece sorrir? Mas o que ainda menos se compreende, é ver os bens e os males tão desigualmente distribuídos entre o vício e a virtude; ver os homens virtuosos sofrerem ao lado dos maus que prosperam. A fé no futuro pode consolar e proporcionar paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus.
Entretanto, desde que admitamos a existência de Deus, não podemos concebê-lo sem suas perfeições infinitas. Ele deve ser todo-poderoso, todo justiça, todo bondade, pois sem isso não seria Deus. E se Deus é soberanamente bom e justo, não pode agir por capricho ou com parcialidade. As vicissitudes da vida têm, então, uma causa e como Deus é justo, essa causa deve ser justa. Eis o que cada um deve compenetrar-se. Deus colocou os homens na compreensão dessa causa pelos ensinamentos de Jesus, e hoje, julgando-os suficientemente maduros para compreendê-la, revela-a por completo através do Espiritismo, ou seja, pela voz dos Espíritos.
Causas atuais das aflições
4. As vicissitudes da vida são de duas espécies, ou, se preferirmos, têm duas fontes bem diversas, que é importante distinguir: umas têm sua causa na vida presente, outras, além desta vida.
Remontando à fonte dos males terrenos, reconhecer-se-á que muitos são conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que os suportam.
Quantos homens caem por sua própria falta! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!
Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por má conduta ou por não terem limitado os seus desejos!
Quantas uniões infelizes, porque resultaram dos cálculos do interesse ou da vaidade, e com as quais nada tem a ver o coração!
Quantas dissensões, quantas disputas funestas e inúteis ter-se-ia podido evitar com mais moderação e menos suscetibilidade!
Quantas doenças e enfermidades são a conseqüência da intemperança e dos excessos de todo gênero!
Quantos pais são infelizes com seus filhos, por não terem combatido as suas más tendências desde o princípio! Por fraqueza ou indiferença, deixaram que se desenvolvessem neles os germes do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que ressecam o coração e mais tarde, colhendo o que semearam, admiram-se e se afligem com a sua falta de respeito e a sua ingratidão.
Que todos os que têm o coração ferido pelas vicissitudes e decepções da vida, interroguem friamente a sua consciência. Remontem pouco a pouco à fonte dos males que os afligem, e verão se, na maioria das vezes não podem dizer: Se eu tivesse feito ou não tivesse feito tal coisa, eu não estaria nesta situação.
A quem se deve, então, todas essas aflições senão a si mesmos? O homem é, dessa maneira, num grande número de casos, o artífice de seus próprios infortúnios. Mas, ao invés de reconhecê-lo, ele acha mais simples, e menos humilhante para a sua vaidade, acusar o destino, a Providência, a sorte desfavorável, enquanto que sua má estrela, na verdade, é a sua própria negligência.
Os males dessa natureza formam, certamente, um número considerável das vicissitudes da vida. O homem os evitará, quando trabalhar para o seu aperfeiçoamento moral e intelectual.
5. A lei humana alcança certas faltas e as pune. O condenado pode, então, dizer que sofreu a conseqüência do que fez, no entanto, a lei não alcança e não pode alcançar todas as faltas. Ela alcança, mais especialmente, aqueles que trazem perigo à sociedade, e não as faltas que prejudicam os que as cometem. Mas Deus quer o progresso de todas as suas criaturas; é por isso que ele não deixa impune nenhum desvio do caminho certo. Não existe uma só falta, por mais leve que seja, nem uma só infração à sua lei que não tenha conseqüências forçosas e inevitáveis, mais ou menos desagradáveis. Isto significa que, tanto nas coisas pequenas como nas grandes, o homem é sempre punido naquilo em que pecou. Os sofrimentos conseqüentes são para ele uma advertência de que ele andou mal. Dão-lhe a experiência, e o fazem sentir a diferença do bem e do mal, e a necessidade de melhorar para evitar no futuro o que para ele foi uma fonte de desgostos. Sem isso, ele não teria nenhum motivo para se corrigir. Confiante na impunidade, retardaria sua evolução e, conseqüentemente, a sua felicidade futura.
Mas a experiência, algumas vezes, chega um pouco tarde, quando a vida já foi desperdiçada e desorganizada, quando as forças já estão consumidas, e o mal é irremediável, então, o homem se põe a dizer: Se no início da vida eu soubesse o que sei hoje, quantos passos em falso eu teria evitado! Se tivesse de recomeçar, eu faria tudo diferente, mas não há mais tempo! Assim como o trabalhador preguiçoso que diz: Eu perdi o meu dia, ele também diz: Eu perdi a minha vida. Mas assim como para o trabalhador o sol se levanta no dia seguinte, e uma nova jornada começa permitindo-lhe reparar o tempo perdido, também para eles, após a noite do túmulo, brilhará o sol de uma nova vida, na qual ele poderá aproveitar a experiência do passado e pôr em execução suas boas resoluções para o futuro.
Causas anteriores das aflições
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