quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

CURSO I - DA LEI DO PROGRESSO, ESTADO DE NATUREZA


Curso Básico de Espiritismo

Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal

8. Da lei do progresso, estado de natureza

O estado de natureza é o estado de simplicidade do espírito, é o seu ponto de partida, quer intelectual quer moral. É o início da sua caminhada através da linha do princípio e da finalidade, que lhe cumpre percorrer, accionado pelas diversas leis que se conjugam entre si com vista a permitir-lhe o desenvolvimento das potencialidades divinas.

É lei natural que esta evolução se dê, impedindo que o homem permaneça indefinidamente no seu estágio de infância espiritual, que de nada lhe valeria se fosse perpetuado. A permanência em tal estágio aparentemente lhe daria um estado de felicidade, que é a felicidade do bruto, como a do animal, cujos instintos estão inteiramente satisfeitos.

Havendo necessidade de evoluir - sair do estado de natureza empurrado pela lei natural - o homem cria uma série de atribulações próprias dos vários estágios pelos quais deva passar. Não podendo retrogradar, senão apenas estacionar por tempo determinado, é por isso responsabilizado no curso geral da sua vida imortal, criando para si embaraços e dificuldades que só o tempo bem aproveitado poderá resgatar.

Marcha do progresso

Está presente no homem a força que o destina para o grande amanhã, mas cumpre que pelo processo de relação com os outros e do aprendizado que faça, desenvolva este princípio. É da lei: aquele que mais se desenvolva ajude o menos desenvolvido, para não criar os grandes desníveis que acabam por gerar, na ausência da lei do amor, o mecanismo servo-senhor ou dominado-dominador.

O progresso moral, que é o grande objectivo do espírito, é uma conquista decorrente do progresso intelectual, porque, através deste último, a criatura humana aprende a discriminar os valores, para poder escolher o que mais lhe convém, usando a faculdade do livre-arbítrio.

A possibilidade de escolha, após o conhecimento discriminativo, é função da inteligência, que assim cria a responsabilidade do acto. A acção automática, instintiva ou imitativa, realizada sem a determinação da vontade, é acto casual, mecânico ou condicionado, que não tem valor moral e denota apenas um estado circunstancial do espírito.

Só passo a passo os povos conseguem atingir o progresso. Por enquanto, o homem tem usado o conhecimento para alimentar a sua inferioridade moral, gerando, como consequência, a necessidade do sofrimento, como instrumento da sua elevação moral. Um dia o homem equilibrará as duas forças, a intelectualidade e a moralidade, atingindo a sabedoria.

O progresso é uma força viva da natureza, não estando no homem o poder de sustê-lo pelas leis oriundas do seu egoísmo e orgulho; quando muito, embaraça-o, estando sempre a sofrer a sua acção construtiva. Os abalos físicos e morais que sofre a humanidade de tempos a tempos são a mostra da sua presença transformadora.

". . . As revoluções morais, como as revoluções sociais, infiltram-se nas ideias, pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações" - comentário de Allan Kardec.*

Apesar do desenvolvimento material, ao observador desavisado parece que o homem, em vez de avançar, recua moralmente; no entanto, uma visão de conjunto mostra-nos que o homem do século XX é muito mais evoluído socialmente do que há séculos. É verdade que ainda estamos longe de equilibrar o progresso intelectual com o moral, mas a finalidade do homem na Terra é justamente essa. Às vezes é preciso "que o mal chegue ao excesso, para se tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas". O que ainda impede o homem de alcançar o seu destino é o orgulho e o egoísmo.

Povos degenerados

À primeira vista, alguns povos, depois de abalos profundos, caem num processo de degeneração, facto que aparentemente nega a lei do progresso. A explicação que a doutrina espírita nos fornece é a de que não são os mesmos espíritos que animam os descendentes de um povo que degenera; são espíritos menos evoluídos, que reencarnam aproveitando o meio ambiente que lhes é favorável, mas que não serão permanentemente atrasados, pois através dos tempos, das provações individuais e colectivas ressarcirão o seu passado, reabilitando-se através de mudanças que ocorrem na continuidade das suas múltiplas encarnações, pois todos os espíritos caminham para a mesma finalidade, que é a perfeição moral, e a nenhum Deus deserda. Tal como um indivíduo, que passa pelas fases da infância, juventude, maturidade e decrepitude, com os povos isso também ocorre". ... Aqueles cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador viverão e servirão de farol aos outros povos".

É utópico pensar que no futuro todos os povos, mercê da evolução espiritual, formarão apenas uma nação. A impossibilidade existe, porque a diversidade de costumes, que geram necessidades próprias, manterão a individualidade das nações. Mas o entendimento fraternal, executado através da lei de caridade, aproximará os povos e as nações, que saberão conviver em plano de ajuda mútua e de paz, mesmo que isso seja alcançado apenas num futuro distante.

Civilização

O conceito de civilização varia de acordo com o ângulo básico que se lhe dê. Se a entendermos como o conjunto de procedimentos que levam o homem a ter uma vida mais confortável, não se preocupando com os meios usados para atingir o conforto, teremos uma visão pragmática e imediatista, porque não dizer materialista.

Mas se considerarmos como civilização um conjunto de valores conquistados pelo esforço humano no campo das ideias e dos ideais, concretizados no respeito ao semelhante, na consecução de leis justas, que devolvem a paz de consciência ao ser, mesmo que o conforto material não seja atingido como meta principal, teremos uma visão idealista e cultural da civilização, porque não dizer espiritualista!

O homem inferior preocupa-se em primeiro lugar com o seu conforto material; o superior procura estar em paz com a sua consciência, buscando sempre auxiliar o seu semelhante, mesmo que isso lhe custe a renúncia a bens materiais.

Os indícios de uma civilização completa serão conhecidos pelo desenvolvimento moral dos que a compõem, que se tratarão irmamente, banindo o egoísmo e o orgulho, dando lugar à caridade cristã no relacionamento individual e entre as nações.

Também a civilização terrena passa por fases e períodos desde a infância até à maturidade.

"De duas nações que tenham chegado ao ápice da escala social, somente pode considerar-se a mais civilizada, na legítima acepção do termo, aquela onde existe menos egoísmo, menos cobiça e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais, onde a inteligência se puder desenvolver com maior liberdade; onde haja mais bondade, boa fé, benevolência e generosidade recíprocas; onde menos enraizados se mostrem os preconceitos de casta e de nascimento, pois tais preconceitos são incompatíveis com o verdadeiro amor ao próximo; onde as leis nenhum privilégio consagrem e sejam as mesmas tanto para o último como para o primeiro; onde com menos parcialidade se exerça a justiça; onde o fraco encontre sempre amparo contra o forte; onde a vida do homem, as suas crenças e opiniões sejam mais bem respeitadas; onde exista menor número de desgraçados; enfim, onde todo o homem de boa vontade esteja certo de não lhe faltar o necessário."

Progresso da legislação humana

A legislação humana é uma criação das exigências sociais, pela não compreensão e devida aplicação das leis naturais que, por si só, bastariam para reger o comportamento do homem.

Elas vão-se depurando com o passar dos tempos, aperfeiçoando-se à medida que os homens compreendem a justiça como meio de regular a relação humana, e vão-se tornando mais estáveis à medida que se identificam com a lei natural.

O que se vê, contudo, é que, influenciado pelas paixões, o homem cria deveres e direitos imaginários, que acabam por servir aos interesses de grupos, em detrimento da maioria.

As leis severas e punitivas têm a finalidade de tentar reparar o erro cometido, embora "só a educação poderá reformar os homens, que, então, não precisarão mais de leis tão rigorosas".

Influência do espiritismo no progresso

Os princípios doutrinários do espiritismo, por estarem na natureza, tornar-se-ão crença geral e marcarão uma era nova na história da humanidade, ocupando lugar entre os conhecimentos humanos.

A existência de um princípio criador e sustentador do universo - Deus; a existência e imortalidade de um principio inteligente individualizado - o espírito; a continuidade permanente e eterna da existência deste princípio em outros níveis dimensionais - a imortalidade do espírito; a possibilidade de sintonia entre os espíritos dos vários níveis dimensionais, com a consequente troca de influências - a comunicabilidade dos espíritos; o retomar de tarefas não terminadas, o resgate de dívidas contraídas e a necessidade de desenvolvimento constante, sob o ponto de vista espiritual - a reencarnação; a possibilidade da evolução se fazer não apenas na Terra, mas através dos biliões de planetas existentes no universo - a pluralidade dos mundos habitados; provam os pontos cardeais do espiritismo e estão na base de todas as discussões actuais promovidas pela ciência, que se arvora como representante do conhecimento, e não sabemos se demorará apenas mais do que duas gerações para que tais princípios fiquem devidamente aceites e comprovados.

Destruindo o materialismo, que volta o homem para os interesses apenas imediatos; libertando a sua mente para a adopção de princípios superiores; demostrando ao homem a continuidade da sua existência, passando por cima da morte como por uma estação intermediária na sua grande viagem cósmica pelo universo, perseguindo a perfeição, então o homem perceberá que o seu presente é fruto do passado e o futuro fatalmente será construído pelo seu presente, onde aplicará a acção não apenas buscando o seu conforto material e o seu bem-estar transitório, mas adoptando leis morais que unirão os homens solidariamente como irmãos.

Tal influência no progresso da humanidade já se fez sentir, embora de maneira ténue, mas firme e segura, e chegou à humanidade na época em que ela se apresentava com necessidade de recebê-la para não se afundar no materialismo esterilizante. O progresso de tal influência dar-se-á não somente pela multiplicação das manifestações espirituais, mas fundamentalmente pelo amadurecimento dos conhecimentos já existentes e pelo reconhecimento da mudança que o espiritismo opera na conduta do homem para com o seu semelhante.

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