quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
O LIVRO DOS ESPIRITOS
Desde o princípio de sua formação, o Espírito desfruta da plenitude de suas faculdades?
Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XVI - Não se pode servir a Deus e a Mamon - Salvação dos ricos
O Livro dos Médiuns - cap. XIV - quest. 165 a 177
CURSO - SENSAÇÃO NOS ESPÍRITOS
Ensaio teórico sobre a sensação nos espíritos (cap. VI, item IV, questão 257 Livro dos Espíritos)
O corpo é o instrumento da dor; se não é a sua primeira causa, é ao menos a causa imediata. A alma tem a percepção dessa dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que dela conserva pode ser muito penosa, mas não pode implicar em ação física. Com efeito, nem o frio nem o calor podem desestruturar os tecidos da alma pois esta não pode regelar-se, nem queimar. Não vemos, todos os dias, a lembrança ou a expectativa angustiosa diante de um mal físico, produzir os seus efeitos, ocasionando até mesmo a morte? Todos sabem que as pessoas que sofreram amputações sentem dor no membro que não possuem mais. Seguramente não é esse membro a sede, nem mesmo o ponto de partida da dor. O cérebro conserva a impressão, eis tudo. Podemos, desta forma, acreditar que há qualquer coisa de semelhante nos sofrimentos dos Espíritos após a morte. Um estudo mais aprofundado do perispírito, que desempenha papel importante em todos os fenômenos espíritas, como nas aparições vaporosas ou tangíveis, no estado do Espírito no momento da morte, na idéia tão freqüente, de que ainda está vivo, na situação surpreendente dos suicidas, dos supliciados, das pessoas que viveram tão somente para desfrutar dos prazeres materiais, e tantos outros fatos, vieram lançar luz sobre esta questão, dando lugar às explicações de que apresentamos aqui um resumo.
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo. É tomado do meio ambiente, do fluido universal. Contém ao mesmo tempo, eletricidade, fluido magnético, e até certo ponto, a matéria inerte. Poderíamos dizer que é a quintessência da matéria; é o princípio da vida orgânica, mas não o da vida intelectual, pois esta pertence ao Espírito. É, igualmente, o agente das sensações exteriores. No corpo, essas sensações estão localizadas nos órgãos que lhes servem de canal. Destruído o corpo, as sensações se generalizam. Eis porque o Espírito não diz que sofre mais da cabeça que dos pés. A propósito, é necessário precavermo-nos de confundir as sensações do perispírito, independente das do corpo: podemos tomar estas últimas apenas como termo de comparação e não como analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é o mesmo do corpo. Não obstante, não é um sofrimento unicamente moral, como o remorso, pois o Espírito se queixa das sensações de frio e calor. Mas não sofre mais no inverno que no verão: vemo-los passar por entre as chamas sem nada provar de penoso, o que evidencia que a temperatura não exerce sobre eles nenhuma impressão. A dor que sentem não é, portanto, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo do qual o próprio Espírito nem sempre tem perfeita consciência, precisamente porque não é localizada nem produzida por agentes exteriores; é antes uma lembrança penosa. Da mesma forma, há mais que uma lembrança, como veremos.
A experiência nos ensina que, no momento da morte, o perispírito se desprende gradativamente do corpo; nos primeiros instantes, o Espírito não compreende a sua situação; não acredita estar morto, sente-se vivo. Vê seu corpo ao lado, sabe que é seu e não entende porque esteja separado. Esse estado perdura por todo o tempo enquanto existir um liame entre o corpo e o perispírito. Um suicida nos relatou: “Não, eu não estou morto”, e acrescentava: “e, no entanto, sinto os vermes que me roem”. Ora, seguramente, os vermes não roíam o perispírito e, ainda menos, o Espírito mas sim, o corpo. Mas como a separação do corpo e do perispírito não estava completa, havia uma espécie de repercussão moral, que lhe transmitia a sensação do que se passava no corpo. Repercussão não é bem o termo, pois poderia dar a entender um efeito muito material. É antes a visão do que se passava no corpo ao qual o perispírito continuava ligado, que produzia nele essa ilusão, tomada por real. Assim, não se tratava de uma lembrança, pois durante sua vida, não fora roído pelos vermes: era uma sensação atual.
Vemos, portanto, as deduções que podemos tirar dos fatos, quando observados atentamente. Durante a vida, o corpo recebe as impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que chamamos de fluido nervoso. O corpo, estando morto, não sente mais nada, porque não possui mais Espírito, nem perispírito. O perispírito, desligado do corpo, prova a sensação; mas como esta não lhe chega através de um canal limitado, torna-se generalizado. Ora, como o perispírito é, na realidade, apenas um agente de transmissão, pois é o Espírito que tem a consciência, deduz-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, ele não sentiria mais do que um corpo quando morto. Da mesma forma, se o Espírito não tivesse perispírito, estaria inacessível a toda sensação penosa. É o que ocorre com os Espíritos completamente depurados. Sabemos que, quanto mais o Espírito se purifica, mais eterizada se torna a essência do perispírito, de modo que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o perispírito torna-se menos denso.
Mas, dir-se-á, as sensações agradáveis são transmitidas ao Espírito pelo perispírito, tanto quanto as desagradáveis. Ora, se o Espírito puro é inacessível a umas, deve sê-lo igualmente às outras. Sem dúvida, àquelas que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos. O som de nossos instrumentos, o perfume de nossas flores não lhes produz nenhuma impressão, e não obstante, eles desfrutam de sensações íntimas, de um encanto indefinível, que não podemos ter nenhuma idéia, porque estamos para elas, como cegos de nascença para a luz. Sabemos que essas sensações agradáveis e sutis existem; mas por qual meio? Aí se detém o nosso conhecimento. Sabemos que o Espírito possui percepção, sensação, audição, visão – que essas faculdades são atributos de todo o seu ser e não apenas de certos órgãos, como no homem. Mas ainda uma vez, de que forma? É o que não sabemos. Os próprios Espíritos não podem explicar-nos, pois nossa língua não foi feita para exprimir idéias que não possuímos, assim como na língua dos selvagens não existem vocábulos que expressem as nossas artes, as nossas ciências e as nossas doutrinas filosóficas.
Ao dizer que os Espíritos são inacessíveis às impressões da nossa matéria, falamos dos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não possui termos análogos por aqui. Não é o mesmo com aquele cujo perispírito é mais denso pois percebe os nossos sons e sente os nossos odores, mas não por uma parte específica de seu corpo, como quando vivo. Poderíamos dizer que as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o seu ser, chegando assim ao seu sensorium commune, que é o próprio Espírito, mas de uma forma diversa, produzindo uma impressão diferente, o que acarreta uma alteração na percepção. Ouvem o som de nossa voz e, portanto, compreendem-nos sem necessidade da palavra, apenas através da transmissão do pensamento, o que é demonstrado pelo fato de haver uma maior condição de penetrabilidade para o Espírito desmaterializado.
Quanto à visão, é independente de nossa luz, pois a faculdade de ver é um atributo essencial à alma: para ela, não há obscuridade e apresenta-se mais ampla e penetrante entre os que estão mais depurados. A alma, ou o Espírito, tem portanto em si mesmo a faculdade de todas as percepções. Na vida corporal, elas são obscurecidas pelo grau de densidade de seus órgãos. Na vida extracorpórea, tê-las-á mais apuradas, à medida que o envoltório semimaterial torna-se menos denso.
Esse envoltório, tomado do meio ambiente, varia segundo a natureza dos mundos. Ao passar de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como mudamos de roupa ao passar do inverno ao verão ou do pólo ao equador. Os Espíritos mais elevados, quando vêm visitar-nos, revestem-se do perispírito terrestre e então, suas percepções assemelham-se às dos Espíritos vulgares. Mas todos, tanto inferiores como os superiores, ouvem e sentem o que querem ouvir e sentir. Como são desprovidos de órgãos sensoriais, podem tornar suas percepções ativas ou nulas à vontade, havendo apenas uma coisa que são forçados a ouvir: são os conselhos dos bons Espíritos. A visão é sempre ativa, mas podem tornar-se invisíveis uns para os outros. Conforme a classe a que pertençam, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, mas não dos superiores. Nos primeiros momentos após a morte, a visão do Espírito é sempre turva e obscura, esclarecendo-se à medida que ele se liberta e podendo adquirir a mesma clareza que teve quando em vida, além da possibilidade de penetrar nos corpos opacos. Quanto à sua extensão através do espaço infinito, no passado e no futuro, depende do grau de pureza e de elevação do Espírito.
Toda essa teoria, dir-se-á, não é muito tranqüilizadora. Pensamos que, uma vez desembaraçados de nosso grosseiro envoltório, instrumento de nossas dores, não sofreríamos mais, e eis que nos ensinam que sofreremos ainda. Podemos ainda sofrer, e muito, durante longo tempo, mas também podemos não sofrer mais, desde o instante em que deixamos essa vida corpórea.
Os sofrimentos deste mundo são, às vezes, decorrentes de nossa própria vontade. Que se remonte à origem e ver-se-á que a maior parte é conseqüência de causas que poderíamos ter evitado. Quantos males e enfermidades o homem não deve a esses excessos, à sua ambição, às suas paixões, enfim? O homem que tivesse vivido sempre sobriamente, que não houvesse cometido abusos, que tivesse sido simples em seus gostos e modesto em seus desejos, se pouparia de muitas tribulações. O mesmo acontece aos Espíritos: os sofrimentos que enfrenta são sempre conseqüência da maneira pela qual viveu na Terra. Não terá, sem dúvida, a gota e o reumatismo, mas terá outros sofrimentos que não serão menores.
Vimos que esses sofrimentos são o resultado dos laços que ainda existem entre o Espírito e a matéria. Quanto mais estiver desligado da influência da matéria, ou seja, quanto mais estiver desmaterializado, menos sentirá as sensações penosas. Ora, depende dele afastar-se dessa influência desde esta vida, pois tem o livre-arbítrio e, por conseqüência, a escolha entre fazer e não fazer. Por conseguinte, que exerça domínio sobre suas paixões animais; não tenha nem ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; que não seja dominado pelo egoísmo; que purifique sua alma pelos bons sentimentos; que pratique o bem; que não dê às coisas deste mundo senão a importância que merecem; então, mesmo sob o envoltório corpóreo, já estará depurado, já estará livre da matéria e, quando deixar esse envoltório, não sofrerá mais a sua influência. Os sofrimentos físicos pelos quais tiver passado não lhe deixarão nenhuma lembrança penosa; não lhe restará nenhuma impressão desagradável, porque estas não afetaram ao Espírito, mas apenas o corpo; sentir-se-á feliz por estar liberto e a tranqüilidade de sua consciência o afastará de todo sofrimento moral.
Interrogamos sobre o assunto milhares de Espíritos, pertencentes a todas as classes sociais e posições. Estudamo-los em todos os estágios de sua vida espírita, desde o momento em que deixaram a vestidura carnal. Seguimo-los, passo a passo na vida além-túmulo, observando as mudanças que neles se operavam, em suas idéias e sensações. A esse respeito, os homens mais simples não foram os que nos forneceram menos preciosos objetos de estudo. Ora, vimos sempre que os sofrimentos estão relacionados à conduta, da qual sofrem as conseqüências, e que a nova existência é uma fonte de felicidade inefável àqueles que tomaram o bom caminho. De onde se segue que os que sofrem é porque assim o quiseram e só devem queixar-se de si mesmos, tanto no outro mundo quanto neste.
Sensorium commune: expressão latina, significando a sede das sensações, da sensibilidade. (N. do E.)
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
CURSO- COMEMORAÇÃO DOS MORTOS (DIA DOS MORTOS )
Comemoração dos mortos (Dia dos Mortos) – L.E. (Questões 320 a 325)
320) Os Espíritos são sensíveis à saudade dos que os amavam na Terra
Muito mais do que podeis julgar. Essa lembrança aumenta-lhes a felicidade, se são felizes, e se são infelizes, serve-lhes de alívio.
321) O dia de comemoração dos mortos tem alguma coisa de mais solene para os Espíritos? Preparam-se eles para visitar os que vão orar sobre os túmulos?
Os Espíritos atendem ao chamado do pensamento, nesse dia como nos outros.
321.a) Esse é para eles um dia de reunião junto às sepulturas?
Reúnem-se em maior número nesse dia, porque maior é o número de pessoas que os chamam. Mas cada um só comparece em atenção aos seus amigos, e não pela multidão dos indiferentes.
321.b) Sob que forma comparecem, e como seriam vistos, se pudessem tornar-se visíveis?
Aquela pela qual eram conhecidos em vida.
322) Os Espíritos esquecidos, cujas tumbas não são visitadas por ninguém, comparecem apesar disso e sentem algum desgosto por não verem nenhum amigo lembrar-se deles?
Que lhes importa a Terra? Somente pelo coração se prendem a ela. Se não mais o amam, nada mais há que faça o Espírito voltar a Terra. Ele tem todo o Universo pela frente.
323) A visita ao túmulo proporciona mais satisfação ao Espírito do que uma prece feita em sua intenção?
A visita ao túmulo é uma maneira de se manifestar que se pensa no Espírito ausente: é a exteriorização desse fato. Eu já vos disse que é a prece que santifica o ato de lembrar; pouco importa o lugar, se a lembrança é ditada pelo coração.
324) Os Espíritos das pessoas homenageadas com estátuas ou monumentos assistem às inaugurações e as vêem com prazer?
Muitos as assistem, quando podem, mas são menos sensíveis às honras que lhes tributam do que às lembranças.
325) De onde pode vir, para certas pessoas, o desejo de serem enterradas antes num lugar do que noutro? Voltam a ele com mais satisfação, após a morte? E essa importância dada a uma coisa material é sinal de inferioridade do Espírito?
Afeição do Espírito por certos lugares: inferioridade moral. O que represente um pedaço de terra mais do que outro, para o Espírito elevado? Não sabe ele que a sua alma se reunirá aos que ama, mesmo que os seus ossos estejam separados?
325.a) A reunião dos despojos mortais de todos os membros de uma família deve ser considerada como futilidade?
Não. É um costume piedoso e um testemunho de simpatia pelos entes amados. Se essa reunião pouco represente para os Espíritos, é útil para os homens: suas recordações se concentram melhor.
A – Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos – E.S.E (Capítulo XXIII)
E a outro disse Jesus: Segue-me. E ele lhe respondeu: Senhor, permite-me que vá eu primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai, e anuncia o Reino de Deus. (Lucas, IX: 59-60).
1) O que podem significar estas palavras: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos”?
As considerações precedentes já nos mostraram, antes de mais nada, que, na circunstância em que foram pronunciadas, não podiam exprimir uma censura àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar o pai. Mas elas encerram um sentido mais profundo, que só um conhecimento mais completo da vida espiritual pode fazer compreender.
A Vida espiritual é, realmente, a verdadeira vida, a vida normal do Espírito. Sua existência terrena é transitória e passageira, uma espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da vida espiritual. O corpo é uma vestimenta grosseira, que envolve temporariamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba terrena, e da qual ele se sente feliz em libertar-se. O respeito que temos pelos mortos não se refere à matéria, mas, através da lembrança, ao Espírito ausente. É semelhante ao que temos pelos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou em vida, e que guardamos como relíquias. Era isso que aquele homem não podia compreender por si mesmo. Jesus lhe ensinou, dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai antes no Espírito; ide pregar o Reino de Deus: ide dizer aos homens que a sua pátria não se encontra na Terra, mas no Céu, porque somente lá é que se vive a verdadeira vida.
CURSO-O MARAVILHOSO EO SOBRENATURAL
O Maravilhoso e o Sobrenatural II–Cap. II– Livro dos Médiuns– (questões 12 a 15)
12) Na lógica mais elementar, para discutir uma coisa é necessário conhecê-la porque a opinião de um crítico só tem valor quando ele fala com conhecimento de causa. Somente assim, a sua opinião, embora errônea pode ser levada em consideração. Mas a que peso ela pode ter, quando emitida sobre a matéria que ele desconhece? A verdadeira crítica deve dar provas, não somente de erudição, mas de conhecimento profundo do objeto tratado, de isenção no julgamento e de absoluta imparcialidade. A não ser assim, qualquer violeiro poderia se arrogar o direito de julgar Rossini e qualquer pintor de paredes de censurar Rafael.
13) O Espiritismo não aceita todos os fatos considerados maravilhosos. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de algumas crenças que constituem, propriamente falando, a superstição. É verdade que entre os fatos por ele admitidos há coisas que, para os incrédulos, são inegavelmente do maravilhoso, o que vale dizer da superstição. Que seja. Mas, pelo menos, que limitem a eles a discussão, pois em relação aos outros nada têm que dizer e pregarão no deserto. Criticando o que o próprio Espiritismo refuta, demonstram ignorar o assunto e argumentam em vão. Mas até onde vai a crença do Espiritismo, perguntarão. Lede e observai, que o sabereis.
A aquisição de qualquer ciência exige tempo e estudo. Ora, o Espiritismo, que toca nas mais graves questões da Filosofia, em todos os setores da ordem social, que abrange ao mesmo tempo o homem físico e o homem moral, é em si mesmo toda uma Ciência, toda uma Filosofia, que não podem ser adquiridas em apenas algumas horas. Há tanta puerilidade em ver todo o Espiritismo n uma mesa girante, como em ver toda a Física em algumas experiências infantis. Para quem não quiser ficar na superfície, não são horas, mas meses e anos que terá de gastar para sondar todos os seus arcanos. Que se julgue, diante disso, o grau de conhecimento e o valor da opinião dos que se arrogam o direito de julgar porque viram uma ou dias experiências, quase sempre realizadas como distração ou passatempo. Eles dirão, sem dúvida que não dispõem do tempo necessário para esse estudo. Que seja, mas nada os obriga a isso. E quando não se tem tempo para aprender uma coisa, não se pode falar dela, e menos ainda julgá-la, se não se quiser ser acusado de leviandade. Ora, quanto mais elevada é a posição que se ocupe na Ciência, menos desculpável será tratar-se levianamente um assunto que não se conhece.
14) Resumimos nossa opinião nas proposições seguintes:
1º) Todos os fenômenos espíritas têm como princípio a existência da alma, sua sobrevivência à morte do corpo e suas manifestações;
2º) Decorrendo de uma lei da Natureza, esses fenômenos nada têm de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar dessas palavras;
3º) Muitos fatos são considerados sobrenaturais porque a sua causa não é conhecida; ao lhes determinar a causa, o Espiritismo os devolve ao domínio dos fenômenos naturais;
4º) Entre os fatos qualificados de sobrenaturais, o Espiritismo demonstra a impossibilidade de muitos e os coloca entre as crenças supersticiosas;
5º) Embora o Espiritismo reconheça um fundo de verdade em muitas crenças populares, ele não aceita absolutamente que todas as estórias fantásticas criadas pela imaginação sejam da mesma natureza;
6º) Julgar o Espiritismo pelos fatos que ele não admite é dar prova de ignorância e desvalorizar por completo a própria opinião;
7º) A explicação dos fatos admitidos pelo Espiritismo, de suas causas e suas consequências morais, constituem toda uma Ciência e toda uma Filosofia que exigem estudo sério, perseverante e aprofundado;
8º) O Espiritismo só pode considerar como crítico sério aquele que tudo viu e estudou, em tudo se aprofundando com paciência e a perseverança de um observador consciencioso; que tenha tanto conhecimento do assunto como adepto mais esclarecido; que haja, portanto, adquirido seus conhecimentos nas ficções literárias da ciência; ao qual não se possa opor nenhum fato por ele desconhecido, nenhum argumento que ele não tenha meditado e que não tenha refutado apenas por meio da negação, mas por outros argumentos mais decisivos; aquele enfim, que pudesse apontar uma causa mais lógica para os fatos averiguados. Esse crítico ainda está para aparecer. (1)
(1) Realmente, esse crítico, ainda em nossos dias, está por aparecer. Basta uma rápida leitura dos livros e artigos publicados hoje contra o Espiritismo, para nos mostrar que a situação não mudou. Cientistas, filósofos, teólogos, sacerdotes, pastores e intelectuais, inclusive adeptos de instituições espiritualistas procedentes do antigo Ocultismo, continuam a criticar levianamente o Espiritismo, sem se darem ao trabalho preliminar de estudá-lo, a não ser ligeiramente e com segundas intenções. (N. do T.)
15) Referimo-nos há pouco à palavra milagre; uma breve observação sobre o assunto não estará deslocada num capítulo sobre o maravilhoso. Na sua acepção primitiva e por sua etimologia a palavra milagre significa coisa extraordinária, coisa admirável de ver. Mas essa palavra, como tantas outras, desviou-se do sentido original e hoje se diz (segundo a Academia): de um ato de potência divina contrário ás leis comuns da Natureza. Essa é, com efeito, a sua acepção usual, e só por comparação ou metáfora se aplica às coisas vulgares que nos surpreendem e cuja causa desconhecemos.
Não temos absolutamente a intenção de examinar se Deus poderia julgar útil, em certas circunstâncias, derrogar as leis por ele mesmo estabelecidas. Nosso objetivo é somente o de demonstrar que os fenômenos espíritas, por mais extraordinários que sejam, não derrogam de maneira alguma essas leis e não têm nenhum caráter miraculoso, tanto mais que não são maravilhosos ou sobrenaturais. O milagre não tem explicação; os fenômenos espíritas, pelo contrário, são explicados da maneira mais racional. Não são, portanto, milagres, mas, simples efeitos que têm sua razão de ser nas leis gerais. O milagre tem ainda outro caráter: o de ser insólito e isolado. Ora, desde que um fato se reproduz, por assim dizer, à vontade, e por meio de pessoas diversas, não pode ser um milagre.
A Ciência faz milagres todos os dias aos olhos dos ignorantes: eis porque antigamente os que sabiam mais do que o vulgo passavam por feiticeiros, e como se acreditava que toda ciência sobre-humana era diabólica, eles eram queimados. Hoje, que estamos muito mais civilizados, basta enviá-los para os hospícios.
Que um homem realmente morto, como dissemos no início, seja ressuscitado por uma intervenção divina e teremos um verdadeiro milagre, porque isso é contrário às leis da Natureza. Mas se esse homem tem apenas a aparência da morte, conservando ainda um resto de vitalidade latente, e a Ciência ou uma ação magnética consegue reanimá-lo para as pessoas esclarecidas isso é um fenômeno natural. Entretanto, aos olhos do vulgo ignorante o fato passará por milagroso e o seu autor será rechaçado a pedradas ou será venerado, segundo o caráter dos circunstantes. Que um físico solte um papagaio elétrico num meio rural, fazendo cair um raio sobre uma árvore, e esse novo Prometeu será certamente encarado como detentor de um poder diabólico. Aliás, diga-se de passagem, Prometeu nos parece sobretudo um antecessor de Franklin; mas Josué, fazendo parar o Sol, ou antes a Terra, nos daria o verdadeiro milagre, pois não conhecemos nenhum magnetizador dotado de tanto poder para operar esse prodígio.
De todos os fenômenos espíritas, um dos mais extraordinários é indiscutivelmente o da escrita direta, um dos que demonstram da maneira mais evidente a ação das inteligências ocultas. Mas por ser produzido pelos seres ocultos, esse fenômeno não é mais miraculoso do que todos os demais, também devidos a agentes invisíveis. Porque esses seres invisíveis, que povoam os espaços, são uma das potências da Natureza, potência que age incessantemente sobre o mundo material, tão bem como sobre o mundo moral.
O Espiritismo, esclarecendo-nos a respeito dessa potência, dá-nos a chave de uma infinidade de coisas inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio, e que em tempos distantes puderam passar como prodígios. Ele revela, como aconteceu com o magnetismo, uma lei desconhecida ou pelo menos mal compreendida; ou, dizendo melhor, uma lei cujos efeitos eram conhecidos, porque produzidos em todos os tempos, mas ela mesma sendo ignorada, isso deu origem à superstição. Conhecida essa lei, o maravilhoso desaparece e os fenômenos se reintegram na ordem das coisas naturais. Eis porque os espíritas, fazendo mover uma mesa ou com que os mortos escrevam, não fazem mais milagres do que o médico ao reviver um moribundo ou o físico ao provocar um raio. Aquele que pretendesse, com a ajuda desta Ciência, fazer milagres, seria um ignorante da doutrina ou um trapaceiro.
CURSO- MUNDOS TRANSITÓRIOS
Mundos transitórios – Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos – Livro dos Epíritos, cap. VI– (questões 234 a 236)
234) Existem, como foi dito, mundos que servem de estações ou de lugares de repouso aos espíritos errantes?
Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que eles podem habitar temporariamente, espécie de acampamentos, de lugares em que possam repousar de erraticidades muito longas, que são sempre um pouco penosas. São posições intermediárias entre os outros mundos, graduados de acordo com a natureza dos espíritos que podem atingi-los, e que neles gozam de maior ou menor bem estar.
234.a ) Os Espíritos que habitam esse mundo podem deixá-los à vontade?
Sim, os Espíritos que se encontram nesses mundos podem deixá-los, para seguir o seu destino. Figurai-os como aves de arribação descendo numa ilha, para recuperarem suas forças e seguirem avante.
235) Os espíritos progridem durante essas estações nos mundos transitórios?
Certamente. Os que assim se reúnem tem o fito de se instruírem em poder mais facilmente obter a permissão de ir a lugares melhores até chegar à posição dos eleitos.
236 ) Os mundos transitórios são, por sua natureza especial, perpetuamente destinados aos Espíritos errantes?
Não, sua posição é apenas temporária.
236.a) São eles ao mesmo tempo habitado por seres corpóreos?
Não sua superfície é estéril. Os que os habitam não precisam de nada.
236.b) Essa esterilidade é permanente e se liga a sua natureza especial?
Não, são estéreis transitoriamente.
236.c) Esses mundos seriam, então desprovidos de belezas naturais?
A natureza de traduz pelas belezas da imensidade, que não são menos admiráveis do que chamais belezas naturais.
236 .d) Sendo transitórios o estado desses mundos, a Terra terá um dia de estar entre eles?
Já esteve.
236.e) Em que época?
Durante a sua formação.
Nada existe de inútil na natureza: cada coisa tem a sua finalidade, a sua destinação; nada é vazio, tudo é habitado, a vida se expande por toda a parte. Assim, durante a longa série de séculos que se escoou antes da aparição do homem sobre a terra, durante os lentos períodos de transição atestados pelas camadas geológicas, antes mesmo da formação dos primeiros seres orgânicos, sobre essa massa informe, nesse árido caos em que os elementos se confundiam, não havia ausência de vida. Seres que não tinham as nossas necessidades, nem as nossas sensações físicas, ali encontravam refúgio. Deus quis que, mesmo nesse estado imperfeito, ela servisse para alguma coisa. Quem, pois, ousaria dizer, entre os bilhões de mundos que circulam na imensidade, apenas um, um dos menores, perdido na multidão, teve o privilégio exclusivo de ser povoado? Qual seria a utilidade dos outros? Deus só os teria feito para recriar aos nossos olhos? Suposição absurda, incompatível com a sabedoria que brilha em todas as suas obras, inadmissíveis quando se pensa em todas que não podemos perceber. Ninguém poderá negar que há, nesta idéia dos mundos ainda impróprios para a vida material, entretanto povoados de seres apropriados ao seu estado, alguma coisa de grande e sublime, onde talvez se encontre a solução de mais de um problema.
Percepções, sensações e sofrimentos dos espíritos (LE 237 a 256)
237) A alma uma vez no mundo dos Espíritos, tem ainda as percepções que tinha nessa vida?
Sim, e outras que não possuía, porque o seu corpo era como um véu que a obscurecia. A inteligência é um atributo do Espírito, mas se manifesta mais livremente quando não tem entraves.
238) As percepções e os conhecimentos dos Espíritos são ilimitados? Sabem eles todas as coisas?
Quanto mais se aproximam da perfeição, mais sabem: se forem superiores sabem muito. Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes em todos os assuntos.
293) Os Espíritos conhecem o princípio das coisas?
Conforme a sua elevação e sua pureza. Os Espíritos inferiores não sabem mais do que os homens.
240) Os Espíritos compreendem a duração como nós?
Não; e isso faz que não nos compreendamos sempre quando se trata de fixar datas ou épocas.
Os Espíritos vivem fora do tempo, tal como compreendemos; a duração , para eles, praticamente não existe e os séculos, são tão longos para nós, são aos seus olhos apenas instantes que desaparecem na eternidade, da mesma maneira que as desigualdades do solo se apagam e desaparecem, para aquele que se eleve no espaço.
241) Os Espíritos fazem do presente uma idéia mais precisa e mais justa do que nós?
Mais ou menos, como aquele que vê claramente tem uma idéia mais justa das coisas, do que o cego. Os Espíritos vêm o que não vedes e julgam diferente de vós. Mas ainda uma vez: isso depende da sua elevação.
242) Como têm os Espíritos o conhecimento do passado? Esse conhecimento é para eles ilimitado?
O passado, quando dele nos ocupamos, é um presente, precisamente como te lembras de uma coisa que te impressionou durante o teu exílio. Entretanto, como não temos mais o véu material que obscurece a tua inteligência, lembramo-nos das coisas que desapareceram para ti. Mas nem tudo os Espíritos conhecem, a começar pela sua própria criação.
243) Os Espíritos conhecem o futuro?
Depende, ainda, da sua perfeição. Quase sempre, nada mais fazem do que entrevê-lo, mas nem sempre têm a permissão de o revelar. Quando o vêem, ele lhes parece presente. O Espírito vê o futuro mais claro, à medida que se aproxima de Deus. Depois da morte, a alma vê a abarca de relance as suas migrações passadas, mas não pode ver o que Deus lhe prepara. Para isso, é necessário que esteja integrada nele, depois de muitas existências.
243.a) Os Espíritos chegados à perfeição absoluta têm completo conhecimento do futuro?
Completo não é o termo, porque Deus é único e soberano Senhor e ninguém o pode igualar.
244) Os Espíritos vêem a Deus?
Somente os Espíritos superiores o vêem e compreendem; os Espíritos inferiores o sentem e adivinham.
244.a) Quando um Espírito inferior diz que Deus lhe proíbe ou permite uma coisa, como sabe que a ordem vem de Deus?
Ele não vê a Deus mas sente a sua soberania, e quando uma coisa não deve ser feita ou uma palavra não deve ser dita, recebe uma intuição, uma advertência invisível, que o inibe de fazê-lo. Vós mesmos tendes pressentimentos que são para vós como advertências secretas, para fazerdes ou não alguma coisa. O mesmo acontece conosco mas em grau superior, pois compreendes que, sendo mais sutil do que a vossa a essência dos Espíritos, podemos receber mais facilmente as advertências divinas.
244.b) A ordem é transmitida diretamente por Deus, ou por intermédio de outros Espíritos?
Não vem diretamente de Deus, pois para comunicar-se com ele é preciso merecê-lo. Deus transmite as suas ordens pelos Espíritos que estão mais elevados em perfeição e instrução.
245) A vista dos Espíritos é circunscrita, como nos seres corpóreos?
Não, é uma faculdade geral.
246) Os Espíritos precisam de Luz para ver?
Vêem pela luz própria, sem necessidade de luz exterior; para eles não há trevas, a não ser aquelas em que podem encontrar-se por expiação.
247) Os Espíritos precisam transportar-se, para ver em dois lugares diferentes? Podem ver ao mesmo tempo num e noutro hemisfério do globo?
Como o Espírito se transporta com a rapidez do pensamento, podemos dizer que vê por toda parte de uma só vez. Seu pensamento pode irradiar e dirigir-se para muitos pontos ao mesmo tempo. Mas essa faculdade depende da sua pureza: quanto menos puro ele for, mais limitada é a sua vista; somente os Espíritos superiores podem ter visão de conjunto.
A faculdade de ver dos Espíritos, inerente à sua natureza, difunde-se por todo o seu ser, como a luz num corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal, que se estende a tudo, envolve simultaneamente o espaço, o tempo e as coisas e para a qual não há trevas nem obstáculos materiais. Compreende-se que assim deve ser, pois no homem a vista funciona através de um órgão que recebe a luz, e sem luz ele fica na obscuridade. Nos Espíritos, a faculdade de ver é um atributo próprio, que independe de qualquer agente exterior. A vista não precisa da luz.
248) O Espírito vê as coisas distintamente como nós?
Mais distintamente, porque a sua vista penetra o que a vossa não pode penetrar; nada a obscurece.
249) O Espírito percebe os sons?
Sim, e percebe até mesmo os que os vossos sentidos obtusos não podem perceber.
249.a) A faculdade de ouvir, como a de ver, está em todo o seu ser?
Todas as percepções são atributos do Espírito e fazem parte do seu ser. Quando ele se reveste de corpo material, elas se manifestam pelos meios orgânicos; mas, no estado de liberdade, não estão mais localizadas.
250) Sendo as percepções atributos do próprio Espírito, ele pode deixar de usá-las?
O Espírito só vê e ouve o que ele quiser, isto de uma maneira geral, e sobretudo para os Espíritos elevados. Os imperfeitos ouvem e vêem freqüentemente, queiram ou não, aquilo que pode ser útil ao seu melhoramento.
251) Os Espíritos são sensíveis à música?
Trata-se da vossa música? O que é ela perante a música celeste, essa harmonia da qual ninguém na Terra pode ter idéia? Uma é para a outra o que o canto do selvagem é para a suave melodia. Não obstante, os Espíritos vulgares podem provar um certo prazer ao ouvir a vossa música, porque não estão ainda capazes de compreender outra mais sublime. A música tem,para os Espíritos, encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas muito desenvolvidas. Refiro-me à música celeste, que é tudo quanto a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e mais suave.
252) Os Espíritos são sensíveis às belezas naturais?
As belezas naturais dos vários globos são tão diversas que estamos longe de as conhecer. Sim, são sensíveis a elas segundo as suas aptidões para as apreciar e compreender. Para os Espíritos elevados há belezas de conjunto, diante das quais se apagam, por assim dizer, as belezas dos detalhes.
253) Os Espíritos experimentam as nossas necessidades e os nossos sofrimentos físicos?
Eles o conhecem porque os sofreram, mas não os experimentam, como vós, porque são Espíritos.
254) Os Espíritos sentem fadiga e necessidade de repouso?
Não podem sentir a fadiga como a entendeis, e portanto não necessitam do repouso corporal, pois não possuem órgãos em que as forças tenham de ser restauradas. Mas o Espírito repousa, no sentido de não permanecer numa atividade constante. Ele não age de maneira material, porque a sua ação é toda intelectual e o seu repouso é todo moral. Há momentos em que o seu pensamento diminui de atividade e não se dirige a um objetivo determinado; este é um verdadeiro repouso, mas não se pode compará-lo ao do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos podem provar está na razão da sua inferioridade, pois quanto mais se elevam, de menos repouso necessitam.
255) Quando um Espírito diz que sofre, de que natureza é o seu sofrimento?
Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente que os sofrimentos físicos.
256) Como alguns Espíritos se queixam de frio ou calor?
Lembranças do que sofreram durante a vida e algumas vezes tão penosas como a própria realidade. Freqüentemente, é uma comparação que fazem, para exprimirem a sua situação. Quando se lembram do corpo, experimentam uma espécie de impressão, como quando se tira uma capa e algum tempo depois ainda se pensa estar com ela.
fonte:Literal do O Livro dos Espíritos - editado pela Lake
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