quinta-feira, 26 de agosto de 2010
O SUICÍDIO E A LOUCURA
O suicídio e a loucura
A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.
O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.
A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou lêem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa conseqüência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral.
O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a contrapor à idéia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que, quando todos os homens forem espiritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma.
Retirado do Evangelho segundo o Espiritismo - Allan Kardec
quarta-feira, 19 de maio de 2010
CAUSAS DAS MORTES PREMATURAS
MORTE PREMATURA: CRIANÇAS NO MUNDO ESPIRITUAL
CAUSAS DAS MORTES PREMATURAS
Como explicar a situação da criança, cuja vida material se interrompe? E por que esse fato ocorre? Duas indagações que surgem naturalmente ao nos depararmos com a morte na infância.
Allan Kardec [LE-qst 199] registra o pensamento dos Espíritos Superiores:
"A duração da vida da criança pode ser, para seu Espírito, o complemento de uma vida interrompida antes do tempo devido, e sua morte é freqüentemente uma prova ou uma expiação para os pais."
Observamos pelo exposto que a morte prematura está quase sempre vinculada a erro grave de existência pretérita: almas culpadas que transgrediram a Lei geral que vige os destinos da criatura e retornam à carne para recomporem a consciência ante o deslize. São, muitas vezes, ex-suicídas (conscientes ou inconscientes) que necessitam do contato com os fluidos materializados do planeta, para refazerem a sutil estrutura eletromagnética de seu corpo espiritual.
Lembram ainda os Benfeitores que os pais estão igualmente comprometidos com a Lei de Causa e Efeito e, na maioria das vezes, foram cúmplices ou causadores indiretos da falta que gerou o sofrimento de hoje.
Emmanuel [Criança no Além-prefácio] afirma:
"Porque a desencarnação de crianças, vidas tolidas em flor?
Muitos problemas observados exclusivamente do lado físico, assemelha-se a enigmas de solução impraticável; entretanto, examinados do ponto de vista da imortalidade e do burilamento progressivo da alma, reconhecer-se-á que o Espírito em evolução pode solicitar conscientemente certas experiências ou ser induzido a ela em benefício próprio.
Nas realizações terrestres, é comum a vinculação temporária de alguém a determinado serviço por tempo previamente considerado.
Há quem renasça em limitado campo de ação para trabalho uniforme em decênios de presença pessoal e há quem se transfira dessa ou daquela tarefa para outra, no curso da existência, dependendo, para isso, de quotas marcadas de tempo. Encontramos amigos que efetuam longos cursos de formação profissional em lugares distantes do recanto em que nasceram e outros que se afastam, a prazo curto, da paisagem que lhes é própria, buscando as especializações de que se observam necessitados. E depois destes empreendimentos concluídos, através de viagens que variam de tipo, segundo as escolhas que façam, ei-las de regresso aos locais de trabalho em cuja estruturação se situam.
Esta é a imagem a que recorremos para que a desencarnação de crianças seja compreendida, no plano físico, em termos de imortalidade e reencarnação."
Casos, no entanto, existem que não estão inseridos no processo de Ação e Reação e configuram sim, ações meritórias de Espíritos missionários que renascem para viverem poucos anos em contato com a carne em função de tarefas espirituais. É o que afirma André Luiz:
"Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a expectativa apresentação que lhes era custumeira."
CRIANÇAS NO PLANO ESPIRITUAL
Com relação à posição espiritual dos Espíritos que desencarnam na infância, André Luiz informa-nos que todos eles são recolhidos em Instituições apropriadas, não se encontrando Espíritos de crianças nas regiões umbralinas.
Há inúmeras descrições espirituais de Escolas, parques, colônias e instituições diversas consagradas ao acolhimento e amparo às crianças que retornam do Planeta através da desencarnação.
Chico Xavier, analisando a situação espiritual e o grau de lucidez desses Espíritos diz:
"Os benfeitores espirituais habitualmente nos esclarecem que a criança desencarnada no Mais Além, recobra parcialmente valores da memória, quando na condição de Espírito, tenha já entesourado alta gama de conhecimentos superiores, com pouco tempo depois da desencarnação, conseguindo, por isso, formular conceitos e anotações de acordo com a maturidade intelectual adquirida com laborioso esforço.
O mesmo não acontece com o Espírito que ainda não adquiriu patrimônio de experiência mais dilatados, seja por estar nos primeiros degraus da evolução humana ou por essência de aplicação pessoal ao estudo e a observação dos acontecimentos.
Para o Espírito nesse estágio, o desenvolvimento na vida espiritual é semelhante ao que se verifica no plano físico em que o ser humano é compelido a aprender vagarosamente as lições da existência e adiantar-se gradativamente, conforme as exigências do tempo."
André Luiz [Entre a Terra e o Céu] vai pronunciar-se da mesma forma: "Acreditamos que o menino desencarnado retomasse, de imediato, a sua personalidade de adulto ... Em muitas situações, é o que acontece quando o Espírito já alcançou elevado estágio evolutivo.
Contudo, para a grande maioria das crianças que desencarnaram, o caminho não é o mesmo. Almas ainda encarceradas no automatismo inconsciente, acham-se relativamente longe do autogoverno. Jazem conduzidos pela Natureza, à maneira de criancinhas no colo materno. É por esse motivo que não podemos prescindir de períodos de recuperação, para que se afasta do veículo físico, na fase infantil."
QUADRO XII - Morte Prematura – Possibilidades
- Assumir a forma da última existência
- Conservar a forma infantil que vai se desenvolvendo à semelhança do que ocorre na Terra
- Reencarnar pouco tempo depois do falecimento
Bibliografia
1) O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
2) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec
3) Entre a Terra e o Céu - André Luiz/Chico Xavier
4) Resgate e Amor - Tiaminho/Chico Xavier
5) Escola no Além - Claudia/Chico Xavier
6) Crianças no Além - Marcos/Chico Xavier
Apostila Original: Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora - MG
CAUSAS DAS MORTES PREMATURAS
Como explicar a situação da criança, cuja vida material se interrompe? E por que esse fato ocorre? Duas indagações que surgem naturalmente ao nos depararmos com a morte na infância.
Allan Kardec [LE-qst 199] registra o pensamento dos Espíritos Superiores:
"A duração da vida da criança pode ser, para seu Espírito, o complemento de uma vida interrompida antes do tempo devido, e sua morte é freqüentemente uma prova ou uma expiação para os pais."
Observamos pelo exposto que a morte prematura está quase sempre vinculada a erro grave de existência pretérita: almas culpadas que transgrediram a Lei geral que vige os destinos da criatura e retornam à carne para recomporem a consciência ante o deslize. São, muitas vezes, ex-suicídas (conscientes ou inconscientes) que necessitam do contato com os fluidos materializados do planeta, para refazerem a sutil estrutura eletromagnética de seu corpo espiritual.
Lembram ainda os Benfeitores que os pais estão igualmente comprometidos com a Lei de Causa e Efeito e, na maioria das vezes, foram cúmplices ou causadores indiretos da falta que gerou o sofrimento de hoje.
Emmanuel [Criança no Além-prefácio] afirma:
"Porque a desencarnação de crianças, vidas tolidas em flor?
Muitos problemas observados exclusivamente do lado físico, assemelha-se a enigmas de solução impraticável; entretanto, examinados do ponto de vista da imortalidade e do burilamento progressivo da alma, reconhecer-se-á que o Espírito em evolução pode solicitar conscientemente certas experiências ou ser induzido a ela em benefício próprio.
Nas realizações terrestres, é comum a vinculação temporária de alguém a determinado serviço por tempo previamente considerado.
Há quem renasça em limitado campo de ação para trabalho uniforme em decênios de presença pessoal e há quem se transfira dessa ou daquela tarefa para outra, no curso da existência, dependendo, para isso, de quotas marcadas de tempo. Encontramos amigos que efetuam longos cursos de formação profissional em lugares distantes do recanto em que nasceram e outros que se afastam, a prazo curto, da paisagem que lhes é própria, buscando as especializações de que se observam necessitados. E depois destes empreendimentos concluídos, através de viagens que variam de tipo, segundo as escolhas que façam, ei-las de regresso aos locais de trabalho em cuja estruturação se situam.
Esta é a imagem a que recorremos para que a desencarnação de crianças seja compreendida, no plano físico, em termos de imortalidade e reencarnação."
Casos, no entanto, existem que não estão inseridos no processo de Ação e Reação e configuram sim, ações meritórias de Espíritos missionários que renascem para viverem poucos anos em contato com a carne em função de tarefas espirituais. É o que afirma André Luiz:
"Conhecemos grandes almas que renasceram na Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais, recobrando, logo após o serviço levado a efeito, a expectativa apresentação que lhes era custumeira."
CRIANÇAS NO PLANO ESPIRITUAL
Com relação à posição espiritual dos Espíritos que desencarnam na infância, André Luiz informa-nos que todos eles são recolhidos em Instituições apropriadas, não se encontrando Espíritos de crianças nas regiões umbralinas.
Há inúmeras descrições espirituais de Escolas, parques, colônias e instituições diversas consagradas ao acolhimento e amparo às crianças que retornam do Planeta através da desencarnação.
Chico Xavier, analisando a situação espiritual e o grau de lucidez desses Espíritos diz:
"Os benfeitores espirituais habitualmente nos esclarecem que a criança desencarnada no Mais Além, recobra parcialmente valores da memória, quando na condição de Espírito, tenha já entesourado alta gama de conhecimentos superiores, com pouco tempo depois da desencarnação, conseguindo, por isso, formular conceitos e anotações de acordo com a maturidade intelectual adquirida com laborioso esforço.
O mesmo não acontece com o Espírito que ainda não adquiriu patrimônio de experiência mais dilatados, seja por estar nos primeiros degraus da evolução humana ou por essência de aplicação pessoal ao estudo e a observação dos acontecimentos.
Para o Espírito nesse estágio, o desenvolvimento na vida espiritual é semelhante ao que se verifica no plano físico em que o ser humano é compelido a aprender vagarosamente as lições da existência e adiantar-se gradativamente, conforme as exigências do tempo."
André Luiz [Entre a Terra e o Céu] vai pronunciar-se da mesma forma: "Acreditamos que o menino desencarnado retomasse, de imediato, a sua personalidade de adulto ... Em muitas situações, é o que acontece quando o Espírito já alcançou elevado estágio evolutivo.
Contudo, para a grande maioria das crianças que desencarnaram, o caminho não é o mesmo. Almas ainda encarceradas no automatismo inconsciente, acham-se relativamente longe do autogoverno. Jazem conduzidos pela Natureza, à maneira de criancinhas no colo materno. É por esse motivo que não podemos prescindir de períodos de recuperação, para que se afasta do veículo físico, na fase infantil."
QUADRO XII - Morte Prematura – Possibilidades
- Assumir a forma da última existência
- Conservar a forma infantil que vai se desenvolvendo à semelhança do que ocorre na Terra
- Reencarnar pouco tempo depois do falecimento
Bibliografia
1) O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
2) O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec
3) Entre a Terra e o Céu - André Luiz/Chico Xavier
4) Resgate e Amor - Tiaminho/Chico Xavier
5) Escola no Além - Claudia/Chico Xavier
6) Crianças no Além - Marcos/Chico Xavier
Apostila Original: Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora - MG
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
O LIVRO DOS ESPIRITOS
O Livro dos Espíritos - cap. IV item VI - Transmigração progressiva (quest. 189 a 196)
Desde o princípio de sua formação, o Espírito desfruta da plenitude de suas faculdades?
"Não, porque o Espírito, como o homem, tem também a sua infância. Em sua origem, os Espíritos têm apenas uma existência rudimentar, instintiva, possuindo apenas a consciência de si mesmos e de seus atos. A inteligência se lhe desenvolve lentamente."
Qual é o estado da alma em sua primeira encarnação?
"O mesmo da infância na vida corpórea. Sua inteligência apenas desabrocha: ela ensaia para a vida."
As almas de nossos selvagens são almas no estado de infância?
"Infância relativa, pois são almas já desenvolvidas dotadas de paixões."
As paixões denotam, portanto, desenvolvimento?
"Desenvolvimento, sim; não, porém, de perfeição. São sinais de atividade e de consciência própria; enquanto que na alma primitiva, a inteligência e a vida são rudimentares."
A vida do Espírito, em seu conjunto, segue as mesmas fases que vemos na vida corporal. Passa gradualmente do estado de embrião ao de infância, para chegar, por uma sucessão de períodos, ao estado adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que nesta não há o declínio nem a decrepitude da vida corporal. Sua vida, que teve um começo, não terá fim; que lhe é necessário, sob o nosso ponto de vista, um longo período para passar da infância espírita a um desenvolvimento e o seu progresso realizar-se, não somente em um planeta mas através de diversos mundos. A vida do Espírito constitui-se, assim, em uma série de existências corporais, sendo cada qual uma oportunidade de progredir, como cada existência corporal se compõe de uma série de dias, cada um dos quais o homem adquire maior experiência e instrução. Mas, da mesma maneira que na vida humana há dias improdutivos, na do Espírito há existências corporais sem proveito, porque ele não soube conduzi-las.
Mediante uma conduta perfeita é possível ao Espírito vencer em uma única existência corpórea, todos os graus evolutivos e tornar-se puro, sem passar pelos níveis intermediários?
"Não, pois o que o homem julga perfeito está distante da perfeição. Há qualidades que lhe são desconhecidas e nem pode compreender. Poderá tornar-se tão perfeito quanto lhe permita a sua natureza terrena; esta, entretanto, não é a perfeição absoluta. Do mesmo modo que uma criança, por mais precoce que seja, deve passar pela juventude antes de chegar à idade adulta; assim como o doente passa pela convalescença antes de recuperar a saúde. Além disso, o Espírito deve igualmente avançar em conhecimento e moralidade. Se ele progrediu apenas num sentido, é necessário que igualmente progrida num outro, para chegar ao topo da escala. Quanto mais o homem avança em sua vida presente, menos as provas ser-lhe-ão longas e penosas."
O homem pode garantir desde esta vida uma existência futura menos cheia de amarguras?
"Sim, sem dúvida, pode abreviar o caminho e reduzir-lhe as dificuldades. Só o negligente fica sempre no mesmo ponto."
Em suas novas existências, um homem pode descer abaixo do ponto que anteriormente alcançara?
"Como posição social, sim. Como Espírito, não."
A alma de um homem de bem pode animar o corpo de um celerado, noutra encarnação?
"Não, pois ela não pode retroceder."
A alma de um homem perverso pode transformar-se na de um homem de bem?
"Sim, desde que se tenha arrependido. Ser-lhe-á, então, uma recompensa."
A marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrograda. Elevam-se gradualmente na hierarquia e não descem do plano alcançado. Em suas diferentes existências corporais, podem chegar a um nível inferior como homens, mas não como Espíritos. Assim, a alma de um poderoso na Terra pode, mais tarde, animar um humilde artesão, e vice-versa, porque as posições entre os homens estão, freqüentemente, na razão inversa da elevação dos sentimentos morais. Herodes era rei, e Jesus, carpinteiro.
A possibilidade de poder melhorar-se numa outra existência , não tende a levar certas pessoas a perseverar no mau caminho, com a idéia de que sempre poderão corrigir-se mais tarde?
"Os que assim pensam, em nada acreditam, e a idéia de um castigo eterno não os coibiria mais, porque sua razão a repele e essa idéia conduz à incredulidade. Se apenas se houvessem empregado meios racionais para orientar os homens, não existiriam tantos céticos. Um Espírito imperfeito pode, com efeito, pensar da forma questionada acima, durante a vida corpórea; mas, uma vez liberto da matéria, pensará de outra maneira, porque logo perceberá que calculou mal e é então que trará um sentimento diferente, em uma nova existência. É assim que se efetiva o progresso e eis porque temos, na Terra, homens mais avançados que outros. Alguns, já têm uma experiência pelas quais os outros ainda não passaram, mas que adquirirão pouco a pouco. Depende deles avançar na senda do progresso, ou retardá-lo indefinidamente."
O homem que se encontra numa posição má, deseja mudá-la o mais rapidamente possível. Aquele que se persuadiu que as atribulações desta vida são conseqüências de suas próprias imperfeições, procurará assegurar-se uma nova existência menos penosa. Este pensamento o desviará mais do caminho do mal, do que o do fogo eterno, no qual não acredita.
Desde que os Espíritos não se aperfeiçoam senão através do sofrimento e das tribulações da existência corporal, conclui-se que a vida material é uma espécie de crivo ou de cadinho, pelo qual devem passar os seres do mundo espírita, para chegarem à perfeição?
"Sim, é precisamente isso. Eles melhoram através das provas, evitando o mal e praticando o bem. Mas só ao fim de muitas encarnações ou depurações sucessivas é que atingem, num tempo mais ou menos longo e, segundo os seus esforços, o alvo que colimaram."
Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XVI - Não se pode servir a Deus e a Mamon - Salvação dos ricos
1. Nenhum servo pode servir a dois mestres, pois ou odiará um e amará o outro, ou se ligará a um e desprezará o outro. Não podeis servir ao mesmo tempo a Deus e a Mamon. (Lucas, XVI:13)
2. Então, um jovem se aproximou dele e disse: - Bom Mestre, o que devo fazer, para adquirir a vida eterna? - Jesus lhe respondeu: - Por que me chamas de bom? Somente Deus é bom. Porém, se queres entrar na vida, guarda esses mandamentos. - Quais? Jesus lhe disse: Não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não dirás falso testemunho. Honrarás a teu pai e a tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo. O jovem lhe respondeu: - Eu guardei todos esses mandamentos desde a minha infância, o que me falta ainda? Jesus lhe disse: se quiseres ser perfeito, vai, vende o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.
Ouvindo essas palavras, o jovem se foi, triste, porque ele tinha muitos bens. E Jesus disse aos seus discípulos: - Eu vos digo, em verdade, que é bem difícil um rico entrar no Reino dos Céus. Eu vos digo mais uma vez: - É mais fácil um camelo1? passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino dos Céus. (Mateus, XIX:16-24; Lucas, XII:18-25; Marcos X: 17-25)
Utilidade providencial da fortuna
7. Se a riqueza fosse um obstáculo absoluto à salvação daqueles que a possuem - como se poderia inferir de algumas palavras de Jesus, interpretadas segundo a letra e não segundo o espírito. Deus, que as distribui, teria colocado nas mãos de alguns um instrumento fatal de perdição, pensamento que revolta à razão. A riqueza é, sem dúvida, uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria, devido aos seus atrativos, às tentações e à fascinação que exerce. É o supremo excitante do orgulho, do egoísmo e da vida sensual. É o laço mais poderoso que liga o homem à Terra e desvia os seus pensamentos do céu. Produz uma tal vertigem, que se vê, muitas vezes, aquele que passa da miséria à fortuna esquecer rapidamente a sua antiga posição, bem como dos seus companheiros, daqueles que o ajudaram, tornando-se insensível, egoísta e fútil. Mas tornar a vida mais difícil, não é o mesmo que torná-la inviável e pode se transformar a riqueza em meio de salvação nas mãos daquele que dela souber tirar proveito, como alguns venenos que podem recuperar a saúde, se forem empregados à propósito e com discernimento.
Quando Jesus disse ao jovem que o interrogava sobre os meios para ganhar a vida eterna: "Desfaze-te de todos os teus bens, e segue-me", não pretendia estabelecer como princípio absoluto que cada um devesse despojar-se do que possui, e que a salvação só se consegue a esse preço, mas mostrar que o apego aos bens terrenos é um obstáculo à salvação. Esse jovem, na verdade, acreditava estar correto, já que havia observado certos mandamentos e, entretanto, recuava diante da idéia de abandonar os seus bens; seu desejo de obter a vida eterna não ia até esse sacrifício.
A proposta que Jesus lhe fazia era uma prova decisiva, para esclarecer o fundo do seu pensamento. Ele poderia, sem dúvida, ser um padrão de homem honesto, segundo o mundo, não fazer mal a ninguém, não maldizer o seu próximo, não ser fútil nem orgulhoso, honrar ao pai e à mãe. Mas ele não tinha a verdadeira caridade, pois a sua virtude não chegava até à abnegação. Foi isso o que Jesus quis demonstrar. Era a aplicação do princípio: fora da caridade não há salvação.
A conseqüência dessas palavras, tomadas num sentido rigoroso, seria a abolição da fortuna, como prejudicial à felicidade futura e como fonte de incontáveis males sobre a Terra. Seria, além disso, a condenação do trabalho que a pode proporcionar. Conseqüência absurda, que reconduziria o homem à vida selvagem e, exatamente por isso, estaria em contradição com a lei de progresso, que é uma lei de Deus.
Se a riqueza é a fonte de muitos males, se excita tanto às más paixões, se provoca tantos crimes, não é a ela que devemos ater-nos, mas ao homem que dela abusa, assim como faz com todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser-lhe mais útil. É a conseqüência do estado de inferioridade do mundo terreno. Se a riqueza produzisse apenas o mal, Deus não a teria colocado na Terra. Cabe ao homem saber transformá-la em fonte do bem. Se ela não é uma causa imediata do progresso moral, é, sem contestações, um poderoso elemento de progresso intelectual.
Com certeza, o homem tem por missão trabalhar para o desenvolvimento material do globo. Ele deve desbravá-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber, um dia, toda a população que a sua extensão comporta. É preciso aumentar a produção, para alimentar essa população. Se a produção de uma região for insuficiente, é preciso buscá-la noutra. Por isso mesmo, as relações de povo a povo torna-se uma necessidade, e para facilitá-las, é indispensável destruir os obstáculos materiais que os separam, tornar mais rápidas as comunicações.
Para os trabalhos que são obras dos séculos, o homem teve de extrair materiais das próprias entranhas da terra. Buscou na Ciência os meios de executá-los mais segura e rapidamente. Mas, para fazê-lo, necessitava de recursos. A necessidade o fez produzir as riquezas, assim como esta o fez descobrir a Ciência. A atividade necessária para estes mesmos trabalhos lhe aumenta e desenvolve a inteligência, a qual ele concentra, primeiramente, sobre a satisfação das necessidades materiais, e que o ajudará, mais tarde, a compreender as grandes verdades morais.
Sem a riqueza, o primeiro meio de execução, não haveria grandes trabalhos, nem atividades, nem estímulos, nem pesquisas.
Para maior compreensão do assunto leia o capítulo inteiro.
O Livro dos Médiuns - cap. XIV - quest. 165 a 177
3. Médiuns audientes
165. Estes ouvem a voz dos Espíritos. É, como dissemos ao falar da pneumatofonia, algumas vezes uma voz interior, que se faz ouvir no foro íntimo; doutras vezes, é uma voz exterior, clara e distinta, qual a de uma pessoa viva. Os médiuns audientes podem, assim, travar conversação com os Espíritos. Quando têm o hábito de se comunicar com determinados Espíritos, eles os reconhecem imediatamente pela natureza da voz. Quem não seja dotado desta faculdade pode, igualmente, comunicar com um Espírito, se tiver, a auxiliá-lo, um médium audiente, que desempenhe a função de intérprete.
Esta faculdade é muito agradável, quando o médium só ouve Espíritos bons, ou unicamente aqueles por quem chama. Assim, entretanto, já não é, quando um Espírito mau se lhe agarra, fazendo-lhe ouvir a cada instante as coisas mais desagradáveis e não raro as mais inconvenientes. Cumpre-lhe, então, procurar livrar-se desses Espíritos, pelos meios que indicaremos no capítulo da Obsessão.
4. Médiuns falantes
166. Os médiuns audientes, que apenas transmitem o que ouvem, não são, a bem dizer, médiuns falantes. Estes últimos, as mais das vezes, nada ouvem. Neles, o Espírito atua sobre os órgãos da palavra, como atua sobre a mão dos médiuns escreventes. Querendo comunicar-se, o Espírito se serve do órgão que se lhe depara mais flexível no médium. A um, toma da mão; a outro, da palavra; a um terceiro, do ouvido. O médium falante geralmente se exprime sem ter consciência do que diz e muitas vezes diz coisas completamente estranhas às suas idéias habituais, aos seus conhecimentos e, até, fora do alcance de sua inteligência. Embora se ache perfeitamente acordado e em estado normal, raramente guarda lembrança do que diz. Em suma, nele, a palavra é um instrumento de que se serve o Espírito, com o qual uma terceira pessoa pode comunicar-se, como pode com o auxilio de um médium audiente.
Nem sempre, porém, é tão completa a passividade do médium falante. Alguns há que têm a intuição do que dizem, no momento mesmo em que pronunciam as palavras.
Voltaremos a ocupar-nos com esta espécie de médiuns, quando tratarmos dos médiuns
intuitivos.
167. Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Alguns gozam dessa faculdade em estado normal, quando perfeitamente acordados, e conservam lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado sonambúlico, ou próximo do sonambulismo. Raro é que esta faculdade se mostre permanente; quase sempre é efeito de uma crise passageira. Na categoria dos médiuns videntes se podem incluir todas as pessoas dotadas de dupla vista. A possibilidade de ver em sonho os Espíritos resulta, sem contestação, de uma espécie de mediunidade, mas não constitui, propriamente falando, o que se chama médium vidente. Explicamos esse fenômeno em o capítulo VI - Das manifestações visuais.
O médium vidente julga ver com os olhos, como os que são dotados de dupla vista; mas, na realidade, é a alma quem vê e por isso é que eles tanto vêem com os olhos fechados, como com os olhos abertos; donde se conclui que um cego pode ver os Espíritos, do mesmo modo que qualquer outro que tem perfeita a vista. Sobre este último ponto caberia fazer-se interessante estudo, o de saber se a faculdade de que tratamos é mais freqüente nos cegos. Espíritos que na Terra foram cegos nos disseram que, quando vivos, tinham, pela alma, a percepção de certos objetos e que não se encontravam imersos em negra escuridão.
168. Cumpre distinguir as aparições acidentais e espontâneas da faculdade propriamente dita de ver os Espíritos. As primeiras são freqüentes, sobretudo no momento da morte das pessoas que aquele que vê amou ou conheceu e que o vêm prevenir de que já não são deste mundo. Há inúmeros exemplos de fatos deste gênero, sem falar das visões durante o sono. Doutras vezes, são, do mesmo modo, parentes, ou amigos que, conquanto mortos há mais ou menos tempo, aparecem, ou para avisar de um perigo, ou para dar um conselho, ou, ainda, para pedir um serviço. O serviço que o Espírito pode solicitar é, em geral, a execução de uma coisa que lhe não foi possível fazer em vida, ou o auxílio das preces. Estas aparições constituem fatos isolados, que apresentam sempre um caráter individual e pessoal, e não efeito de uma faculdade propriamente dita. A faculdade consiste na possibilidade, senão permanente, pelo menos muito freqüente de ver qualquer Espírito que se apresente, ainda que seja absolutamente estranho ao vidente. A posse desta faculdade é o que constitui, propriamente falando, o médium vidente.
Entre esses médiuns, alguns há que só vêem os Espíritos evocados e cuja descrição podem fazer com exatidão minuciosa. Descrevem-lhes, com as menores particularidades, os gestos, a expressão da fisionomia, os traços do semblante, as vestes e, até, os sentimentos de que parecem animados. Outros há em quem a faculdade da vidência é ainda mais ampla: vêem toda a população espírita ambiente, a se mover em todos os sentidos, cuidando, poder-se-ia dizer, de seus afazeres.
169. Assistimos uma noite à representação da ópera Oberon, em companhia de um médium vidente muito bom. Havia na sala grande número de lugares vazios, muitos dos quais, no entanto, estavam ocupados por Espíritos, que pareciam interessar-se pelo espetáculo. Alguns se colocavam junto de certos espectadores, como que a lhes escutar a conversação. Cena diversa se desenrolava no palco: por detrás dos atores muitos Espíritos, de humor jovial, se divertiam em arremedá-los, imitando-lhes os gestos de modo grotesco; outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores e fazer esforços por lhes dar energia. Um deles se conservava sempre junto de uma das principais cantoras.
Julgando-o animado de intenções um tanto levianas e tendo-o evocado após a terminação do ato, ele acudiu ao nosso chamado e nos reprochou, com severidade, o temerário juízo: "Não sou o que julgas, disse; sou o seu gula e seu Espírito protetor; sou encarregado de dirigi-la." Depois de alguns minutos de uma palestra muito séria, deixou--nos, dizendo: "Adeus; ela está em seu camarim; é preciso que vá vigiá-la." Em seguida, evocamos o Espírito Weber, autor da ópera, e lhe perguntamos o que pensava da execução da sua obra. "Não de todo má; porém, frouxa; os atores cantam, eis tudo. Não há inspiração. Espera, acrescentou, vou tentar dar-lhes um pouco do fogo sagrado." Foi visto, daí a nada, no palco, pairando acima dos atores. Partindo dele, um como eflúvio se derramava sobre os intérpretes. Houve, então, nestes, visível recrudescência de energia.
170. Outro fato que prova a influência que os Espíritos exercem sobre os homens, à revelia destes: Assistíamos, como nessa noite, a uma representação teatral, com outro médium vidente. Travando conversação com um Espírito espectador, disse-nos ele: "Vês aquelas duas damas sós, naquele camarote da primeira ordem? Pois bem, estou esforçando-me por fazer que deixem a sala." Dizendo isso, o médium o viu ir colocar-se no camarote em questão e falar às duas. De súbito, estas, que se mostravam muito atentas ao espetáculo, se entreolharam, parecendo consultar-se mutuamente.
Depois, vão-se e não mais voltam. O Espírito nos fez então um gesto cômico, querendo significar que cumprira o que dissera. Não É tornamos a ver, para pedir-lhe explicações mais amplas. assim que muitas vezes fomos testemunha do papel que os Espíritos desempenham entre os vivos. Observamo-los em diversos lugares de reunião, em bailes, concertos, sermões, funerais, casamentos, etc., e por toda parte os encontramos atiçando paixões más, soprando discórdias, provocando rixas e rejubilando-se com suas proezas. Outros, ao contrário, combatiam essas influências perniciosas, porém, raramente eram atendidos.
171. A faculdade de ver os Espíritos pode, sem dúvida, desenvolver-se, mas é uma das de que convém esperar o desenvolvimento natural, sem o provocar, em não se querendo ser joguete da própria imaginação. Quando o gérmen de uma faculdade existe, ela se manifesta de si mesma. Em princípio, devemos contentar-nos com as que Deus nos outorgou, sem procurarmos o impossível, por isso que, pretendendo ter muito, corremos o risco de perder o que possuímos.
Quando dissemos serem freqüentes os casos de aparições espontâneas (n. 107), não quisemos dizer que são muito comuns. Quanto aos médiuns videntes, propriamenteditos, ainda são mais raros e há muito que desconfiar dos que se inculcam possuidoresdessa faculdade. E prudente não se lhes dar crédito, senão diante de provas positivas.
Não aludimos sequer aos que se dão à ilusão ridícula de ver os Espíritos glóbulos, quedescrevemos no n. 108; falamos apenas dos que dizem ver os Espíritos de modo racional. E fora de dúvida que algumas pessoas podem enganar-se de boa-fé, porém, outras podem também simular esta faculdade por amor-próprio, ou por interesse. Neste caso, é preciso, muito especialmente, levarem conta o caráter, a moralidade e a sinceridade habituais; todavia, nas particularidades, sobretudo, é que se encontram meios de mais segura verificação, porquanto algumas há que não podem deixar suspeita, como, por exemplo, a exatidão no retratar Espíritos que o médium jamais conheceu quando encamados. Pertence a esta categoria o fato seguinte: Uma senhora, viúva, cujo marido se comunica freqüentemente com ela, estava certa vez em companhia de um médium vidente, que não a conhecia, como não lhe conhecia a família. Disse-lhe o médium, em dado momento: - Vejo um Espírito perto da senhora. - Ah! disse esta por sua vez: E com certeza meu marido, que quase nunca me deixa. - Não, respondeu o médium, é uma mulher de certa idade; está penteada de modo singular; traz um bandó branco sobre a fronte.
Por essa particularidade e outros detalhes descritos, a senhora reconheceu, sem haver possibilidade de engano, sua avó, em quem naquele instante absolutamente não pensava. Se o médium houvesse querido simular a faculdade, fácil lhe fora acompanhar o pensamento da dama. Entretanto, em vez do marido, com quem ela se achava preocupada, ele vê uma mulher, com uma particularidade no penteado, da qual coisa alguma lhe podia dar idéia. Este fato prova também que a vidência, no médium, não era reflexo de qualquer pensamento estranho. (Veja-se o n. 102.)
6. Médiuns sonambúlicos
172. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que freqüentemente se acham reunidos. O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que ele externa tira-o de si mesmo; suas idéias são, em geral, mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, porque tem livre a alma. Numa palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos. O médium, ao contrário, é instrumento de uma inteligência estranha; é passivo e o que diz não vem de si Em resumo, o sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento, enquanto que o médium exprime o de outrem. Mas, o Espírito que se comunica com um médium comum também o pode fazer com um sonâmbulo; dá-se mesmo que, muitas vezes, o estado de emancipação da alma facilita essa comunicação. Muitos sonâmbulos vêem perfeitamente os Espíritos e os descrevem com tanta precisão, como os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos. O que dizem, fora do âmbito de seus conhecimentos pessoais, lhes é com freqüência sugerido por outros Espíritos. Aqui está um exemplo notável, em que a dupla ação do Espírito do sonâmbulo e de outro Espírito se revela e de modo inequívoco.
173. Um de nossos amigos tinha como sonâmbulo um rapaz de 14 a 15 anos, de inteligência muito vulgar e instrução extremamente escassa. Entretanto, no estado de sonambulismo, deu provas de lucidez extraordinária e de grande perspicácia. Excedia, sobretudo, no tratamento das enfermidades e operou grande número de curas consideradas impossíveis. Certo dia, dando consulta a um doente, descreveu a enfermidade com absoluta exatidão. Não basta, disseram-lhe, agora é preciso que indiques o remédio. Não posso, respondeu, meu anjo doutor não está aqui. Quem é esse anjo doutor de quem falas? - O que dita os remédios. - Não és tu, então, que vês os remédios? - Oh! não; estou a dizer que é o meu anjo doutor quem mos dita.
Assim, nesse sonâmbulo, a ação de ver o mal era do seu próprio Espírito que, para isso, não precisava de assistência alguma; a indicação, porém, dos remédios lhe era dada por outro. Não estando presente esse outro, ele nada podia dizer. Quando só, era apenas sonâmbulo; assistido por aquele a quem chamava seu anjo doutor, era sonâmbulo-médium.
174. A lucidez sonambúlica é uma faculdade que se radica no organismo e que independe, em absoluto, da elevação, do adiantamento e mesmo do estado moral do indivíduo. Pode, pois, um sonâmbulo ser muito lúcido e ao mesmo tempo incapaz de resolver certas questões, desde que seu Espírito seja pouco adiantado. O que fala por si próprio pode, portanto, dizer coisas boas ou más, exatas ou falsas, demonstrar mais ou menos delicadeza e escrúpulo nos processos de que use, conforme o grau de elevação, ou de inferioridade do seu próprio Espírito. A assistência então de outro Espírito pode suprir-lhe as deficiências. Mas, um sonâmbulo, tanto como os médiuns, pode ser assistido por um Espírito mentiroso, leviano, ou mesmo mau. AI, sobretudo, é que as qualidades morais exercem grande influência, para atraírem os bons Espíritos. (Veja-se: O Livro dos Espíritos, "Sonambulismo", n. 425, e, aqui, adiante, o capítulo sobre a "Influência moral do médium".)
175. Unicamente para não deixar de mencioná-la, falaremos aqui desta espécie de médiuns, porquanto o assunto exigiria desenvolvimento excessivo para os limites em que precisamos ater-nos. Sabemos, ao demais, que um de nossos amigos, médico, se propõe a tratá-lo em obra especial sobre a medicina intuitiva. Diremos apenas que este gênero de mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o concurso de qualquer medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que isso mais não é do que magnetismo.
Evidentemente, o fluido magnético desempenha aí importante papel; porém, quem examina cuidadosamente o fenômeno sem dificuldade reconhece que há mais alguma coisa. A magnetização ordinária é um verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico; no caso que apreciamos, as coisas se passam de modo inteiramente diverso.
Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se
convenientemente, ao passo que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até a possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma potência oculta, que é o que constitui a mediunidade, se faz manifesta, em certas circunstâncias, sobretudo se considerarmos que a maioria das pessoas que podem, com razão, ser qualificadas de médiuns curadores recorre à prece, que é uma verdadeira evocação. (Veja-se atrás o n. 131.)
176. Eis aqui as respostas que nos deram os Espíritos às perguntas que lhes dirigimos sobre este assunto:
1ª a Podem considerar-se as pessoas dotadas de força magnética como formando uma variedade de médiuns?
"Não há que duvidar."
2ª Entretanto, o médium é um intermediário entre os Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma potência estranha.
"É um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxilio. Se magnetizas com o propósito de curar, por exemplo, e invocas um bom Espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias."
3ª Há, entretanto, bons magnetizadores que não crêem nos Espíritos?
"Pensas então que os Espíritos só atuam nos que crêem neles? Os que magnetizam para o bem são auxiliados por bons Espíritos. Todo homem que nutre o desejo do bem os chama, sem dar por isso, do mesmo modo que, pelo desejo do mal e pelas más intenções, chama os maus."
4ª Agiria com maior eficácia aquele que, tendo a força magnética, acreditasse na intervenção dos Espíritos?
"Faria coisas que consideraríeis milagre."
5ª Há pessoas que verdadeiramente possuem o dom de curar pelo simples contacto, sem o emprego dos passes magnéticos?
"Certamente; não tens disso múltiplos exemplos?"
6ª Nesse caso, há também ação magnética, ou apenas influência dos Espíritos?
"Uma e outra coisa. Essas pessoas são verdadeiros médiuns, pois que atuam sob a influência dos Espíritos; isso, porém, não quer dizer que sejam quais médiuns curadores, conforme o entendes."
7ª Pode transmitir-se esse poder?
"O poder, não; mas o conhecimento de que necessita, para exercê-lo, quem o possua. Não falta quem não suspeite sequer de que tem esse poder, se não acreditar que lhe foi transmitido."
8ª Podem obter-se curas unicamente por meio da prece?
"Sim, desde que Deus o permita; pode dar-se, no entanto, que o bem do doente esteja em sofrer por mais tempo e então julgais que a vossa prece não foi ouvida."
9ª Haverá para isso algumas fórmulas de prece mais eficazes do que outras?
"Somente a superstição pode emprestar virtudes quaisquer a certas palavras e somente Espíritos ignorantes, ou mentirosos podem alimentar semelhantes idéias, prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, em se tratando de pessoas pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de determinada fórmula contribua para lhes infundir confiança. Neste caso, porém, não é na fórmula que está a eficácia, mas na fé, que aumenta por efeito da idéia ligada ao uso da fórmula."
8. Médiuns pneumatógrafos
177. Dá-se este nome aos médiuns que têm aptidão para obter a escrita direta, o que não é possível a todos os médiuns escreventes. Esta faculdade, até agora, se mostra muito rara. Desenvolve-se, provavelmente, pelo exercício; mas, como dissemos, sua utilidade prática se limita a uma comprovação patente da intervenção de uma força oculta nas manifestações. Só a experiência é capaz de dar a ver a qualquer pessoa se a possui Pode-se, portanto, experimentar, como também se pode inquirir a respeito um Espírito protetor, pelos outros meios de comunicação. Conforme seja maior ou menor o poder do médium, obtêm-se simples traços, sinais, letras, palavras, frases e mesmo páginas inteiras. Basta de ordinário colocar uma folha de papel dobrada num lugar qualquer, ou indicado pelo Espírito, durante dez minutos, ou um quarto de hora, às vezes mais. A prece e o recolhimento são condições essenciais; é por isso que se pode considerar impossível a obtenção de coisa alguma, numa reunião de pessoas pouco sérias, ou não animadas de sentimentos de simpatia e benevolência. (Veja-se a teoria da escrita direta, capítulo VIII, Laboratório do mundo invisível, n. 127 e seguintes, e capítulo XII, Pneumatografia.)
Trataremos de modo especial dos médiuns escreventes nos capítulos que se seguem.
CURSO - SENSAÇÃO NOS ESPÍRITOS
Ensaio teórico sobre a sensação nos espíritos (cap. VI, item IV, questão 257 Livro dos Espíritos)
O corpo é o instrumento da dor; se não é a sua primeira causa, é ao menos a causa imediata. A alma tem a percepção dessa dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que dela conserva pode ser muito penosa, mas não pode implicar em ação física. Com efeito, nem o frio nem o calor podem desestruturar os tecidos da alma pois esta não pode regelar-se, nem queimar. Não vemos, todos os dias, a lembrança ou a expectativa angustiosa diante de um mal físico, produzir os seus efeitos, ocasionando até mesmo a morte? Todos sabem que as pessoas que sofreram amputações sentem dor no membro que não possuem mais. Seguramente não é esse membro a sede, nem mesmo o ponto de partida da dor. O cérebro conserva a impressão, eis tudo. Podemos, desta forma, acreditar que há qualquer coisa de semelhante nos sofrimentos dos Espíritos após a morte. Um estudo mais aprofundado do perispírito, que desempenha papel importante em todos os fenômenos espíritas, como nas aparições vaporosas ou tangíveis, no estado do Espírito no momento da morte, na idéia tão freqüente, de que ainda está vivo, na situação surpreendente dos suicidas, dos supliciados, das pessoas que viveram tão somente para desfrutar dos prazeres materiais, e tantos outros fatos, vieram lançar luz sobre esta questão, dando lugar às explicações de que apresentamos aqui um resumo.
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo. É tomado do meio ambiente, do fluido universal. Contém ao mesmo tempo, eletricidade, fluido magnético, e até certo ponto, a matéria inerte. Poderíamos dizer que é a quintessência da matéria; é o princípio da vida orgânica, mas não o da vida intelectual, pois esta pertence ao Espírito. É, igualmente, o agente das sensações exteriores. No corpo, essas sensações estão localizadas nos órgãos que lhes servem de canal. Destruído o corpo, as sensações se generalizam. Eis porque o Espírito não diz que sofre mais da cabeça que dos pés. A propósito, é necessário precavermo-nos de confundir as sensações do perispírito, independente das do corpo: podemos tomar estas últimas apenas como termo de comparação e não como analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é o mesmo do corpo. Não obstante, não é um sofrimento unicamente moral, como o remorso, pois o Espírito se queixa das sensações de frio e calor. Mas não sofre mais no inverno que no verão: vemo-los passar por entre as chamas sem nada provar de penoso, o que evidencia que a temperatura não exerce sobre eles nenhuma impressão. A dor que sentem não é, portanto, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo do qual o próprio Espírito nem sempre tem perfeita consciência, precisamente porque não é localizada nem produzida por agentes exteriores; é antes uma lembrança penosa. Da mesma forma, há mais que uma lembrança, como veremos.
A experiência nos ensina que, no momento da morte, o perispírito se desprende gradativamente do corpo; nos primeiros instantes, o Espírito não compreende a sua situação; não acredita estar morto, sente-se vivo. Vê seu corpo ao lado, sabe que é seu e não entende porque esteja separado. Esse estado perdura por todo o tempo enquanto existir um liame entre o corpo e o perispírito. Um suicida nos relatou: “Não, eu não estou morto”, e acrescentava: “e, no entanto, sinto os vermes que me roem”. Ora, seguramente, os vermes não roíam o perispírito e, ainda menos, o Espírito mas sim, o corpo. Mas como a separação do corpo e do perispírito não estava completa, havia uma espécie de repercussão moral, que lhe transmitia a sensação do que se passava no corpo. Repercussão não é bem o termo, pois poderia dar a entender um efeito muito material. É antes a visão do que se passava no corpo ao qual o perispírito continuava ligado, que produzia nele essa ilusão, tomada por real. Assim, não se tratava de uma lembrança, pois durante sua vida, não fora roído pelos vermes: era uma sensação atual.
Vemos, portanto, as deduções que podemos tirar dos fatos, quando observados atentamente. Durante a vida, o corpo recebe as impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que chamamos de fluido nervoso. O corpo, estando morto, não sente mais nada, porque não possui mais Espírito, nem perispírito. O perispírito, desligado do corpo, prova a sensação; mas como esta não lhe chega através de um canal limitado, torna-se generalizado. Ora, como o perispírito é, na realidade, apenas um agente de transmissão, pois é o Espírito que tem a consciência, deduz-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, ele não sentiria mais do que um corpo quando morto. Da mesma forma, se o Espírito não tivesse perispírito, estaria inacessível a toda sensação penosa. É o que ocorre com os Espíritos completamente depurados. Sabemos que, quanto mais o Espírito se purifica, mais eterizada se torna a essência do perispírito, de modo que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o perispírito torna-se menos denso.
Mas, dir-se-á, as sensações agradáveis são transmitidas ao Espírito pelo perispírito, tanto quanto as desagradáveis. Ora, se o Espírito puro é inacessível a umas, deve sê-lo igualmente às outras. Sem dúvida, àquelas que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos. O som de nossos instrumentos, o perfume de nossas flores não lhes produz nenhuma impressão, e não obstante, eles desfrutam de sensações íntimas, de um encanto indefinível, que não podemos ter nenhuma idéia, porque estamos para elas, como cegos de nascença para a luz. Sabemos que essas sensações agradáveis e sutis existem; mas por qual meio? Aí se detém o nosso conhecimento. Sabemos que o Espírito possui percepção, sensação, audição, visão – que essas faculdades são atributos de todo o seu ser e não apenas de certos órgãos, como no homem. Mas ainda uma vez, de que forma? É o que não sabemos. Os próprios Espíritos não podem explicar-nos, pois nossa língua não foi feita para exprimir idéias que não possuímos, assim como na língua dos selvagens não existem vocábulos que expressem as nossas artes, as nossas ciências e as nossas doutrinas filosóficas.
Ao dizer que os Espíritos são inacessíveis às impressões da nossa matéria, falamos dos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não possui termos análogos por aqui. Não é o mesmo com aquele cujo perispírito é mais denso pois percebe os nossos sons e sente os nossos odores, mas não por uma parte específica de seu corpo, como quando vivo. Poderíamos dizer que as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o seu ser, chegando assim ao seu sensorium commune, que é o próprio Espírito, mas de uma forma diversa, produzindo uma impressão diferente, o que acarreta uma alteração na percepção. Ouvem o som de nossa voz e, portanto, compreendem-nos sem necessidade da palavra, apenas através da transmissão do pensamento, o que é demonstrado pelo fato de haver uma maior condição de penetrabilidade para o Espírito desmaterializado.
Quanto à visão, é independente de nossa luz, pois a faculdade de ver é um atributo essencial à alma: para ela, não há obscuridade e apresenta-se mais ampla e penetrante entre os que estão mais depurados. A alma, ou o Espírito, tem portanto em si mesmo a faculdade de todas as percepções. Na vida corporal, elas são obscurecidas pelo grau de densidade de seus órgãos. Na vida extracorpórea, tê-las-á mais apuradas, à medida que o envoltório semimaterial torna-se menos denso.
Esse envoltório, tomado do meio ambiente, varia segundo a natureza dos mundos. Ao passar de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como mudamos de roupa ao passar do inverno ao verão ou do pólo ao equador. Os Espíritos mais elevados, quando vêm visitar-nos, revestem-se do perispírito terrestre e então, suas percepções assemelham-se às dos Espíritos vulgares. Mas todos, tanto inferiores como os superiores, ouvem e sentem o que querem ouvir e sentir. Como são desprovidos de órgãos sensoriais, podem tornar suas percepções ativas ou nulas à vontade, havendo apenas uma coisa que são forçados a ouvir: são os conselhos dos bons Espíritos. A visão é sempre ativa, mas podem tornar-se invisíveis uns para os outros. Conforme a classe a que pertençam, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, mas não dos superiores. Nos primeiros momentos após a morte, a visão do Espírito é sempre turva e obscura, esclarecendo-se à medida que ele se liberta e podendo adquirir a mesma clareza que teve quando em vida, além da possibilidade de penetrar nos corpos opacos. Quanto à sua extensão através do espaço infinito, no passado e no futuro, depende do grau de pureza e de elevação do Espírito.
Toda essa teoria, dir-se-á, não é muito tranqüilizadora. Pensamos que, uma vez desembaraçados de nosso grosseiro envoltório, instrumento de nossas dores, não sofreríamos mais, e eis que nos ensinam que sofreremos ainda. Podemos ainda sofrer, e muito, durante longo tempo, mas também podemos não sofrer mais, desde o instante em que deixamos essa vida corpórea.
Os sofrimentos deste mundo são, às vezes, decorrentes de nossa própria vontade. Que se remonte à origem e ver-se-á que a maior parte é conseqüência de causas que poderíamos ter evitado. Quantos males e enfermidades o homem não deve a esses excessos, à sua ambição, às suas paixões, enfim? O homem que tivesse vivido sempre sobriamente, que não houvesse cometido abusos, que tivesse sido simples em seus gostos e modesto em seus desejos, se pouparia de muitas tribulações. O mesmo acontece aos Espíritos: os sofrimentos que enfrenta são sempre conseqüência da maneira pela qual viveu na Terra. Não terá, sem dúvida, a gota e o reumatismo, mas terá outros sofrimentos que não serão menores.
Vimos que esses sofrimentos são o resultado dos laços que ainda existem entre o Espírito e a matéria. Quanto mais estiver desligado da influência da matéria, ou seja, quanto mais estiver desmaterializado, menos sentirá as sensações penosas. Ora, depende dele afastar-se dessa influência desde esta vida, pois tem o livre-arbítrio e, por conseqüência, a escolha entre fazer e não fazer. Por conseguinte, que exerça domínio sobre suas paixões animais; não tenha nem ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; que não seja dominado pelo egoísmo; que purifique sua alma pelos bons sentimentos; que pratique o bem; que não dê às coisas deste mundo senão a importância que merecem; então, mesmo sob o envoltório corpóreo, já estará depurado, já estará livre da matéria e, quando deixar esse envoltório, não sofrerá mais a sua influência. Os sofrimentos físicos pelos quais tiver passado não lhe deixarão nenhuma lembrança penosa; não lhe restará nenhuma impressão desagradável, porque estas não afetaram ao Espírito, mas apenas o corpo; sentir-se-á feliz por estar liberto e a tranqüilidade de sua consciência o afastará de todo sofrimento moral.
Interrogamos sobre o assunto milhares de Espíritos, pertencentes a todas as classes sociais e posições. Estudamo-los em todos os estágios de sua vida espírita, desde o momento em que deixaram a vestidura carnal. Seguimo-los, passo a passo na vida além-túmulo, observando as mudanças que neles se operavam, em suas idéias e sensações. A esse respeito, os homens mais simples não foram os que nos forneceram menos preciosos objetos de estudo. Ora, vimos sempre que os sofrimentos estão relacionados à conduta, da qual sofrem as conseqüências, e que a nova existência é uma fonte de felicidade inefável àqueles que tomaram o bom caminho. De onde se segue que os que sofrem é porque assim o quiseram e só devem queixar-se de si mesmos, tanto no outro mundo quanto neste.
Sensorium commune: expressão latina, significando a sede das sensações, da sensibilidade. (N. do E.)
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
CURSO- COMEMORAÇÃO DOS MORTOS (DIA DOS MORTOS )
Comemoração dos mortos (Dia dos Mortos) – L.E. (Questões 320 a 325)
320) Os Espíritos são sensíveis à saudade dos que os amavam na Terra
Muito mais do que podeis julgar. Essa lembrança aumenta-lhes a felicidade, se são felizes, e se são infelizes, serve-lhes de alívio.
321) O dia de comemoração dos mortos tem alguma coisa de mais solene para os Espíritos? Preparam-se eles para visitar os que vão orar sobre os túmulos?
Os Espíritos atendem ao chamado do pensamento, nesse dia como nos outros.
321.a) Esse é para eles um dia de reunião junto às sepulturas?
Reúnem-se em maior número nesse dia, porque maior é o número de pessoas que os chamam. Mas cada um só comparece em atenção aos seus amigos, e não pela multidão dos indiferentes.
321.b) Sob que forma comparecem, e como seriam vistos, se pudessem tornar-se visíveis?
Aquela pela qual eram conhecidos em vida.
322) Os Espíritos esquecidos, cujas tumbas não são visitadas por ninguém, comparecem apesar disso e sentem algum desgosto por não verem nenhum amigo lembrar-se deles?
Que lhes importa a Terra? Somente pelo coração se prendem a ela. Se não mais o amam, nada mais há que faça o Espírito voltar a Terra. Ele tem todo o Universo pela frente.
323) A visita ao túmulo proporciona mais satisfação ao Espírito do que uma prece feita em sua intenção?
A visita ao túmulo é uma maneira de se manifestar que se pensa no Espírito ausente: é a exteriorização desse fato. Eu já vos disse que é a prece que santifica o ato de lembrar; pouco importa o lugar, se a lembrança é ditada pelo coração.
324) Os Espíritos das pessoas homenageadas com estátuas ou monumentos assistem às inaugurações e as vêem com prazer?
Muitos as assistem, quando podem, mas são menos sensíveis às honras que lhes tributam do que às lembranças.
325) De onde pode vir, para certas pessoas, o desejo de serem enterradas antes num lugar do que noutro? Voltam a ele com mais satisfação, após a morte? E essa importância dada a uma coisa material é sinal de inferioridade do Espírito?
Afeição do Espírito por certos lugares: inferioridade moral. O que represente um pedaço de terra mais do que outro, para o Espírito elevado? Não sabe ele que a sua alma se reunirá aos que ama, mesmo que os seus ossos estejam separados?
325.a) A reunião dos despojos mortais de todos os membros de uma família deve ser considerada como futilidade?
Não. É um costume piedoso e um testemunho de simpatia pelos entes amados. Se essa reunião pouco represente para os Espíritos, é útil para os homens: suas recordações se concentram melhor.
A – Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos – E.S.E (Capítulo XXIII)
E a outro disse Jesus: Segue-me. E ele lhe respondeu: Senhor, permite-me que vá eu primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai, e anuncia o Reino de Deus. (Lucas, IX: 59-60).
1) O que podem significar estas palavras: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos”?
As considerações precedentes já nos mostraram, antes de mais nada, que, na circunstância em que foram pronunciadas, não podiam exprimir uma censura àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar o pai. Mas elas encerram um sentido mais profundo, que só um conhecimento mais completo da vida espiritual pode fazer compreender.
A Vida espiritual é, realmente, a verdadeira vida, a vida normal do Espírito. Sua existência terrena é transitória e passageira, uma espécie de morte, se comparada ao esplendor e à atividade da vida espiritual. O corpo é uma vestimenta grosseira, que envolve temporariamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba terrena, e da qual ele se sente feliz em libertar-se. O respeito que temos pelos mortos não se refere à matéria, mas, através da lembrança, ao Espírito ausente. É semelhante ao que temos pelos objetos que lhe pertenceram, que ele tocou em vida, e que guardamos como relíquias. Era isso que aquele homem não podia compreender por si mesmo. Jesus lhe ensinou, dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai antes no Espírito; ide pregar o Reino de Deus: ide dizer aos homens que a sua pátria não se encontra na Terra, mas no Céu, porque somente lá é que se vive a verdadeira vida.
CURSO-O MARAVILHOSO EO SOBRENATURAL
O Maravilhoso e o Sobrenatural II–Cap. II– Livro dos Médiuns– (questões 12 a 15)
12) Na lógica mais elementar, para discutir uma coisa é necessário conhecê-la porque a opinião de um crítico só tem valor quando ele fala com conhecimento de causa. Somente assim, a sua opinião, embora errônea pode ser levada em consideração. Mas a que peso ela pode ter, quando emitida sobre a matéria que ele desconhece? A verdadeira crítica deve dar provas, não somente de erudição, mas de conhecimento profundo do objeto tratado, de isenção no julgamento e de absoluta imparcialidade. A não ser assim, qualquer violeiro poderia se arrogar o direito de julgar Rossini e qualquer pintor de paredes de censurar Rafael.
13) O Espiritismo não aceita todos os fatos considerados maravilhosos. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de algumas crenças que constituem, propriamente falando, a superstição. É verdade que entre os fatos por ele admitidos há coisas que, para os incrédulos, são inegavelmente do maravilhoso, o que vale dizer da superstição. Que seja. Mas, pelo menos, que limitem a eles a discussão, pois em relação aos outros nada têm que dizer e pregarão no deserto. Criticando o que o próprio Espiritismo refuta, demonstram ignorar o assunto e argumentam em vão. Mas até onde vai a crença do Espiritismo, perguntarão. Lede e observai, que o sabereis.
A aquisição de qualquer ciência exige tempo e estudo. Ora, o Espiritismo, que toca nas mais graves questões da Filosofia, em todos os setores da ordem social, que abrange ao mesmo tempo o homem físico e o homem moral, é em si mesmo toda uma Ciência, toda uma Filosofia, que não podem ser adquiridas em apenas algumas horas. Há tanta puerilidade em ver todo o Espiritismo n uma mesa girante, como em ver toda a Física em algumas experiências infantis. Para quem não quiser ficar na superfície, não são horas, mas meses e anos que terá de gastar para sondar todos os seus arcanos. Que se julgue, diante disso, o grau de conhecimento e o valor da opinião dos que se arrogam o direito de julgar porque viram uma ou dias experiências, quase sempre realizadas como distração ou passatempo. Eles dirão, sem dúvida que não dispõem do tempo necessário para esse estudo. Que seja, mas nada os obriga a isso. E quando não se tem tempo para aprender uma coisa, não se pode falar dela, e menos ainda julgá-la, se não se quiser ser acusado de leviandade. Ora, quanto mais elevada é a posição que se ocupe na Ciência, menos desculpável será tratar-se levianamente um assunto que não se conhece.
14) Resumimos nossa opinião nas proposições seguintes:
1º) Todos os fenômenos espíritas têm como princípio a existência da alma, sua sobrevivência à morte do corpo e suas manifestações;
2º) Decorrendo de uma lei da Natureza, esses fenômenos nada têm de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar dessas palavras;
3º) Muitos fatos são considerados sobrenaturais porque a sua causa não é conhecida; ao lhes determinar a causa, o Espiritismo os devolve ao domínio dos fenômenos naturais;
4º) Entre os fatos qualificados de sobrenaturais, o Espiritismo demonstra a impossibilidade de muitos e os coloca entre as crenças supersticiosas;
5º) Embora o Espiritismo reconheça um fundo de verdade em muitas crenças populares, ele não aceita absolutamente que todas as estórias fantásticas criadas pela imaginação sejam da mesma natureza;
6º) Julgar o Espiritismo pelos fatos que ele não admite é dar prova de ignorância e desvalorizar por completo a própria opinião;
7º) A explicação dos fatos admitidos pelo Espiritismo, de suas causas e suas consequências morais, constituem toda uma Ciência e toda uma Filosofia que exigem estudo sério, perseverante e aprofundado;
8º) O Espiritismo só pode considerar como crítico sério aquele que tudo viu e estudou, em tudo se aprofundando com paciência e a perseverança de um observador consciencioso; que tenha tanto conhecimento do assunto como adepto mais esclarecido; que haja, portanto, adquirido seus conhecimentos nas ficções literárias da ciência; ao qual não se possa opor nenhum fato por ele desconhecido, nenhum argumento que ele não tenha meditado e que não tenha refutado apenas por meio da negação, mas por outros argumentos mais decisivos; aquele enfim, que pudesse apontar uma causa mais lógica para os fatos averiguados. Esse crítico ainda está para aparecer. (1)
(1) Realmente, esse crítico, ainda em nossos dias, está por aparecer. Basta uma rápida leitura dos livros e artigos publicados hoje contra o Espiritismo, para nos mostrar que a situação não mudou. Cientistas, filósofos, teólogos, sacerdotes, pastores e intelectuais, inclusive adeptos de instituições espiritualistas procedentes do antigo Ocultismo, continuam a criticar levianamente o Espiritismo, sem se darem ao trabalho preliminar de estudá-lo, a não ser ligeiramente e com segundas intenções. (N. do T.)
15) Referimo-nos há pouco à palavra milagre; uma breve observação sobre o assunto não estará deslocada num capítulo sobre o maravilhoso. Na sua acepção primitiva e por sua etimologia a palavra milagre significa coisa extraordinária, coisa admirável de ver. Mas essa palavra, como tantas outras, desviou-se do sentido original e hoje se diz (segundo a Academia): de um ato de potência divina contrário ás leis comuns da Natureza. Essa é, com efeito, a sua acepção usual, e só por comparação ou metáfora se aplica às coisas vulgares que nos surpreendem e cuja causa desconhecemos.
Não temos absolutamente a intenção de examinar se Deus poderia julgar útil, em certas circunstâncias, derrogar as leis por ele mesmo estabelecidas. Nosso objetivo é somente o de demonstrar que os fenômenos espíritas, por mais extraordinários que sejam, não derrogam de maneira alguma essas leis e não têm nenhum caráter miraculoso, tanto mais que não são maravilhosos ou sobrenaturais. O milagre não tem explicação; os fenômenos espíritas, pelo contrário, são explicados da maneira mais racional. Não são, portanto, milagres, mas, simples efeitos que têm sua razão de ser nas leis gerais. O milagre tem ainda outro caráter: o de ser insólito e isolado. Ora, desde que um fato se reproduz, por assim dizer, à vontade, e por meio de pessoas diversas, não pode ser um milagre.
A Ciência faz milagres todos os dias aos olhos dos ignorantes: eis porque antigamente os que sabiam mais do que o vulgo passavam por feiticeiros, e como se acreditava que toda ciência sobre-humana era diabólica, eles eram queimados. Hoje, que estamos muito mais civilizados, basta enviá-los para os hospícios.
Que um homem realmente morto, como dissemos no início, seja ressuscitado por uma intervenção divina e teremos um verdadeiro milagre, porque isso é contrário às leis da Natureza. Mas se esse homem tem apenas a aparência da morte, conservando ainda um resto de vitalidade latente, e a Ciência ou uma ação magnética consegue reanimá-lo para as pessoas esclarecidas isso é um fenômeno natural. Entretanto, aos olhos do vulgo ignorante o fato passará por milagroso e o seu autor será rechaçado a pedradas ou será venerado, segundo o caráter dos circunstantes. Que um físico solte um papagaio elétrico num meio rural, fazendo cair um raio sobre uma árvore, e esse novo Prometeu será certamente encarado como detentor de um poder diabólico. Aliás, diga-se de passagem, Prometeu nos parece sobretudo um antecessor de Franklin; mas Josué, fazendo parar o Sol, ou antes a Terra, nos daria o verdadeiro milagre, pois não conhecemos nenhum magnetizador dotado de tanto poder para operar esse prodígio.
De todos os fenômenos espíritas, um dos mais extraordinários é indiscutivelmente o da escrita direta, um dos que demonstram da maneira mais evidente a ação das inteligências ocultas. Mas por ser produzido pelos seres ocultos, esse fenômeno não é mais miraculoso do que todos os demais, também devidos a agentes invisíveis. Porque esses seres invisíveis, que povoam os espaços, são uma das potências da Natureza, potência que age incessantemente sobre o mundo material, tão bem como sobre o mundo moral.
O Espiritismo, esclarecendo-nos a respeito dessa potência, dá-nos a chave de uma infinidade de coisas inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio, e que em tempos distantes puderam passar como prodígios. Ele revela, como aconteceu com o magnetismo, uma lei desconhecida ou pelo menos mal compreendida; ou, dizendo melhor, uma lei cujos efeitos eram conhecidos, porque produzidos em todos os tempos, mas ela mesma sendo ignorada, isso deu origem à superstição. Conhecida essa lei, o maravilhoso desaparece e os fenômenos se reintegram na ordem das coisas naturais. Eis porque os espíritas, fazendo mover uma mesa ou com que os mortos escrevam, não fazem mais milagres do que o médico ao reviver um moribundo ou o físico ao provocar um raio. Aquele que pretendesse, com a ajuda desta Ciência, fazer milagres, seria um ignorante da doutrina ou um trapaceiro.
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